Colaborou Larissa Romano
Nascida no Ceará, Marina Bitu herdou das avós o gosto e a habilidade pelo fazer manual. Marina se graduou em design de moda pela Universidade Federal do Ceará e se especializou em gestão de negócios da moda pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Ela apresentou nova coleção da sua marca homônima na última edição do DFB Festival, que movimentou a cidade de Fortaleza. Leia entrevista exclusiva com a estilista à Bazaar:
Como foi para você a volta aos desfiles presenciais depois de dois anos?
Em 2019 assinei meu primeiro desfile presencial em uma colaboração com a Jangadeiro Têxtil. Já em 2020 participei como Marina Bitu na edição virtual. Essa foi a primeira vez oficial da marca em uma passarela. O desfile presencial é sem dúvida muito mais emocionante que as versões digitais. Existe uma atmosfera de som, luz e ambiente que, quando vividas pessoalmente, acredito que causam um impacto maior. Estamos felizes em estarmos de volta, com saúde, podendo viver essa experiência.
O que inspirou você ao criar esta coleção apresentada no DFB Festival?
A coleção nasceu a partir de um processo de autoanálise da Marina “criadora” e da Marina enquanto marca. Nossa marca migrou de um formato ‘sob encomenda’ para ‘pronta-entrega’ em 2019 e prevíamos um 2020 otimista, principalmente pois tínhamos acabado de integrar o projeto de Novos Designers do Shop2Gether. Então veio a pandemia, que trouxe para nós, assim como para muitos, não só dificuldades financeiras, mas também bloqueios criativos. Neste tempo, a marca esteve um tanto sumida, sem recursos e sem novas criações. Há um tempo tenho trabalhado neste “resgate” da minha autoestima e da minha capacidade enquanto criadora, assim como tenho reunido esforços para tornar a marca viva de novo. Revisitei trabalhos antigos e elementos que compõem meu repertório imagético. Confirmei que o mar é minha principal inspiração e onde busco minha paz, meus referenciais. Nesse processo de autoanálise me reconheci na figura de um polvo: hipersensível, com muitos braços, acumulando muitas funções. Enquanto criadora, sempre estive envolvida em muitos outros projetos para poder sustentar a marca autoral: tinha sempre um emprego fixo, alguns freelances em paralelo, alguns outros bicos. A narrativa da coleção tem o ponto de partida sob a perspectiva de alguém que está no fundo do mar e é resgatada, voltando a respirar. No caminho de volta à superfície, o olho capta animais bioluminescentes, representados na passarela por peças com técnica de serigrafia que brilha no escuro. Franjas feitas em chiffon retratam as águas vivas. Algumas peças recebem aplicações manuais com resíduos recolhidos das praias pela Sociedade Comunitária De Reciclagem de Resíduos Sólidos do Pirambú, bairro litorâneo da cidade de Fortaleza. Foi no Pirambú onde fiz minhas primeiras aulas de surf, experiência importante no processo de resgate à vida. A sequência do desfile apresenta peças plissadas, características da marca, em formas de conchas e corais. Paetês opacos retratam escamas de peixes e tecidos acetinados fazem referência às superfícies molhadas.
Como foi o processo de criação da coleção?
Revisitei algumas referências e levantei alguns elementos que compõem minha identidade: água, mar, caranguejo, polvo… cada um deles possui um significado para mim. Água, pois é vital, é por meio aquoso onde a vida acontece; minha personalidade se identifica com signos de água: sensíveis, emocionais e fluidos. Mar, pois meu nome deriva dele. Caranguejo pois sou canceriana (rs). E polvo pois é como me sinto lidando com minhas marcas, projetos paralelos, vida pessoal. A partir disso nasceu OCTOPUS. O passo seguinte foi a pesquisa e seleção de matérias primas. Escolhi tecidos cujo aspecto traduzissem cada um desses signos. Por último eu estudo as silhuetas, formas e detalhes de cada peça.
Quais foram as técnicas e tecidos usados nesta coleção?
As principais técnicas foram dublagem de tecidos, plissado e bordado manual. Os principais tecidos foram: cetim, georgette e linho.
O que você já tem em mente para a próxima coleção?
Oh my! Eu ainda tô me recuperando dessa (kkkkkk).