Atriz desde que nasceu – ela é filha do ator Luca De Castro e da terapeuta Cecília Castello Branco -, Carol Castro “brincava de boneca” na coxia. Foi lá que deu seus primeiros passos em direção à carreira artística e onde descobriu que a interpretação estava dentro dela. “Minha mãe diz que a minha vida no teatro começou desde que ela anunciou que estava grávida (risos)”, conta. “Viver essa experiência de fazer sátira com nove anos foi incrível, quantas vezes dormi em cadeiras por conta dos horários. Eu vivi muito essa boemia, esses bastidores do teatro”, completa.
Aos nove anos de idade, já começou a pedir ao pai para fazer teatro, e assim foi. Morou em diferentes cidades, mas sempre ligada à arte, ora com a mãe, ora com o pai.
Atualmente é possível ver Carol em vários trabalhos, como na série bombada “Maldivas”, da Netflix, em que contracena com Sheron Menezzes, Ricky Tavares, Manu Gavassi, Bruna Marquezine, Vanessa Gerbelli e Klebber Toledo, entre outros, – um time de peso -, em “Insânia”, série da Star+ em que faz uma policial, e no filme “Veneza”, pelo qual concorreu ao 21º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro como Melhor Atriz Coadjuvante [o prêmio foi para Zezé Motta], e em outros tantos filmes, séries e reprises de novelas.
Fazer streaming foi para ela a junção do cinema com a TV, e acha que há muita oportunidade no gênero. “Isso foi uma coisa que eu gostei muito do streaming, que é essa mistura do cinema com a TV.” Na televisão, estreou em “Mulheres Apaixonadas”, com sua personagem Gracinha, depois que o diretor de elenco da Globo Luiz Antônio Rocha a viu contracenando no teatro. Daí não parou mais.
Se para “Insânia” ela visitou o IML (Instituto Médico Legal), para “Maldivas” Carol voltou no tempo, se inspirando em suas experiências ao viver na Barra, há 20 anos. Ela aproveita sua versatilidade e transita entre drama e comédia, com facilidade.
Para este segundo semestre ou início de 2023, é possível esperar as interpretações da atriz nos filmes “Férias Trocadas”, “Ninguém é de Ninguém” e “Eike – Tudo ou Nada”, em que faz uma participação. Já estamos ansiosos.
Leia a seguir entrevista que Bazaar fez com Carol via Zoom.
Como você se torna atriz? Foi sempre um sonho e tal?
Acabou que eu tive isso em casa por conta do meu pai, ele fez teatro, cinema, TV, e eu fui vivendo essa realidade, estar sempre em coxia de teatro, ver os atores se maquiando, ou ir a um set de filmagem e ver toda aquela engrenagem acontecendo, viver o backstage. Então essa escolha começou muito cedo para mim, eu tinha nove anos quando comecei a pedir para o meu pai me colocar no teatro. Na época eu ainda morava em Natal, com a minha mãe, mas resolvi pedir a ela que me deixasse morar com ele. Minha mãe diz que a minha vida no teatro começou desde que ela anunciou que estava grávida (risos).
Viver essa experiência de fazer sátira com nove anos foi incrível, quantas vezes dormi em cadeiras por conta dos horários. Eu vivi muito essa boemia, esses bastidores do teatro. Eu ainda morei em Bauru (interior de SP), durante dois anos, e voltei para o Rio quando estava com 14 ou 15 anos. Aí fiz novamente teatro e comecei a correr atrás. Fiz aulas particulares com a Camila Amado [professora de interpretação que morreu em junho de 2021]. Eu também cheguei a cursar seis meses de jornalismo, mas vi que não era para mim, então enveredei para a dança. Nisso eu já estava fazendo testes para comerciais, para tudo. Eu já tinha feito uma participação em “O Caminho das Nuvens”, filme de Vicente Amorim, por conta até de meu pai que fez a arte de pesquisa de elenco. Foi um mar de coisas acontecendo que me colocaram nesse lugar.
Quando tinha uns 17 anos meu pai me convidou para ser assistente dele no cinema, ele tinha que entrevistar crianças e que carregava as coisas, tripé, claquete, fazia a seleção dos escolhidos etc. E era tudo manual, eu tenho caderninho guardado até hoje. Aí, um dia, o Vicente Amorim, o diretor, me viu fazendo o relatório das crianças selecionadas e disse que tinha uma personagem para mim. Mas eu não havia lido o roteiro ainda, então ele disse para eu ler e me alertou de que eu teria de ficar loira de raiz preta, ao que eu respondi que tudo bem. Tive essa experiência com “O Caminho das Nuvens”, que tinha Wagner Moura e Cláudia Abreu, vendo sob outra ótica o fazer cinema. Eu achava que tinha que voltar ao teatro, e mesmo depois de ter sido barrada pelo juizado de menores para fazer “Terror em Copacabana” [releitura da peça “Terror na Praia], retomei o projeto e fui fazer a peça. E foi aí que o diretor de elenco da Globo Luiz Antônio Rocha me viu e gostou. À época, ele estava à procura da Gracinha, de “Mulheres Apaixonadas”, e aí surgiu a Gracinha, sem eu ao menos fazer teste, porque ele me viu em cena e relacionou com a personagem de um comercial que eu havia feito também. Eu já havia mandado material para a Globo de diversas formas, então parece que é sorte, mas não é. E aí o lado atriz falou mais alto, larguei tudo e fui fazer a novela.
Como foi participar de “Maldivas”, da Netflix? Fale sobre a Kat, sua personagem.
Foi muito interessante. “Maldivas” veio em um momento muito interessante porque, em um momento caótico mundial por conta da pandemia, aconteceu de a minha colheita profissional florir, porque eu estou há muito tempo na estrada, aprendi muita coisa com a televisão, que inclusive aprendi fazendo porque dentro de todas essas linguagens era a que eu tinha menos experiência, e foi justamente a que me acolheu e onde fiquei tantos anos. Eu acho que começou quando fui fazer “Velho Chico” e o filme “O Juízo”, do Andrucha Waddington, foi a realização de um sonho trabalhar com a Fernanda Montenegro, e vê-la em campo, vendo a pessoa espetacular que ela é, foi quando eu me vi nesse universo do streaming, que eu, até então, não conhecia. Mas a Kat de “Maldivas” veio em um momento muito curioso, eu sabia muito pouco da personagem quando surgiu o convite, por conta de toda a confidencialidade que precisa, então é muito louco porque o ator para aceitar uma coisa fica sem saber quase nada, eu não tinha ideia de quem eram as meninas da série, por exemplo. Eu estava fazendo “Insânia”, na época, inclusive parando por conta da pandemia, e as informações começaram a chegar, como era a Kat, quem eram as meninas. O louco foi retomar “Insânia”, depois de seis meses parados, ter uma personagem que já não era a mesma, ninguém era mais o mesmo depois desse tempo. Ao mesmo tempo sair daquela personagem [a policial Paula, de “Insânia”], que era densa, sem vaidade nenhuma, que vivia ensanguentada, e partir para a Kat, eu não sabia nem mais andar de salto (risos). Eu como atriz achei muito divertido, não só porque a Kat é muito divertida, mas porque eu estava reaprendendo a viver aquele tipo de personagem. Eu acho bem difícil fazer comédia, apesar de ter sido um pouco a minha escola. Eu já havia trabalhado com o José Alvarenga Jr., diretor, em outros projetos, já conhecia como ele lidava e tal, foi muito interessante. Ele veio com a “faca nos dentes”, a gente vindo de uma pandemia, trabalhando de face shield, máscara, a maquiagem trabalhando como se estivesse em um centro cirúrgico, uma loucura, então eu vivi também esse lado da pandemia no trabalho. Mas ter vivido a Kat foi incrível, achei que a gente teve um entrosamento muito bacana.
A série traz um elenco de famosos, como foi fazer esse trabalho com todos essas meninas e meninos que estão no elenco?
Foi o máximo! A gente vivia naquele mundo paralelo, que é o Ilha Pura, que existe aqui não Rio de Janeiro. A locação por si só já era muito curiosa, ao mesmo tempo nos dava uma segurança, tínhamos um controle maior de quem entrava e saía, as testagens [de Covid], isso dava um conforto nesse sentido. Foi muito divertido, eu dividia o camarim com a Vanessa Gerbelli, que eu já conhecia há muito, apesar de não nos encontrarmos na série tanto porque ela vive uma personagem misteriosa que aparece e desaparece, enfim. Era um andar de camarins, todo mundo se encontrava, virou uma família.
“Insânia”, como rolou o convite para a série da Star+?
Eu fiz teste. Foi o meu primeiro trabalho depois de sair da Globo, e era justamente o que eu procurava, algo que me desafiasse. A Paula foi uma entrega, muito visceral.
Como você se preparou para o papel, você visitou IML?
Sim, visitei. Visitei também o prédio da Policia Científica de SP, do primeiro andar ao último, falando com todas as pessoas que dava. Aí vem as coincidências da vida, a pessoa que deu a palestra falando o que era ser um perito, chama-se Paula, mesmo nome de minha personagem. Eu tive uma aula sobre perícia criminal, o bê-á-bá mesmo. Observava tudo, até porque a observação é um trabalho do ator, que roupas as pessoas que estavam lá usavam, os gestos, a forma de falar, tudo. Adorei a parte teórica, e pedi, se possível, que me levassem a uma cena real de crime, o que acabou rolando mais para frente, mas eles tiveram todos os cuidados, como estar de roupa preta e boné, porque ninguém poderia nos reconhecer, além de todos as outras precauções, como a integridade física. A outra coincidência é que a perita que estava no local da cena de crime se chamava Carolina (risos). E eu falei, muito prazer, me chamo Carolina (risos). Depois dessa, tivemos mais quatro experiências parecidas, mas de crimes diferentes, esse, em específico, fora um feminicídio, mas teve um corpo largado na Marginal Tietê que estava já desfigurado pelo processo de putrefação. No IML eu pude ver o que é um cheiro de IML. Pude ver dissecar um cadáver de um caso que nós visitamos, o do corpo da Marginal Tietê, que fora levado para lá. Eles haviam nos orientado que o cheiro de IML não sai do corpo, que quem trabalha no local, chega em casa, tira toda a roupa, coloca em um saco, toma banho e só depois vai falar com os familiares. E nós tivemos essa experiência, que é real. Mas nós vistamos também uma ala psiquiátrica de um hospital, que para mim foi uma das partes mais difíceis.
Você teve dificuldade para dormir?
Ah, esse dia foi muito tenso, sim. Uma das perguntas que fiz para a perita Paula foi como era o dia dela quando chegava em casa. Ela disse que, primeiramente, escutava rock no carro já no caminho de casa, para dar uma espairecida. E foi mais uma coincidência, porque eu já estava pensando em levar rock’n’roll para a Paula personagem, porque eu fui muito do rock na minha adolescência. Eu andava com uma arma de brinquedo no corpo, para saber o que era ter uma arma. O que amenizou um pouco o dia das experiências ao vivo foi que depois tivemos uma aula de arma, e praticamos tiro. Ou seja, deu para ficar com outra coisa na mente.
“Insânia” e “Maldivas” terão outras temporadas?
Bem, nós estamos esperando. O streaming está passando por momentos muito, digamos, incertos, não sei se por conta das eleições, está um ano meio estranho. Eu estou aguardando ansiosamente para saber se vai ter e, por enquanto, estou correndo atrás de outros projetos.
Você também está no filme “Ninguém é de Ninguém”, da Zíbia Gasparetto.
Foi transformador, estou muito curiosa com o resultado desse filem, que vai lançar no ano que vem.
E também está em “Eike – Tudo ou Nada”, em que interpreta Luma de Oliveira, como foi isso?
Ah, eu faço um participação, que foi meio feliniana, e que gostei muito de fazer, mas foi realmente uma participação.
Tem também “Férias Trocadas”, ou seja, você não parou? Conte sobre o longa que foi rodado na Colômbia?
Foi, eu fique um mês filmando por lá. Ali eu posso dizer que a gente viveu um Big Brother, porque a gente estava lá, no resort, e a história meio que se passa assim, uma família pobre vai viajar e cai no pacote da família rica e vice-versa. Nós filmamos no resort e estávamos meio que isolados, a uma hora de Cartagena. Foi uma experiência muito interessante, e também estou muito curiosa para ver o resultado desse filme.
E para quando é a estreia?
Em princípio para dezembro deste ano.
E projetos, como anda sua vida em termos de trabalho, o que mais vem pela frente?
Agora estou me envolvendo com dois longas-metragens. Eu não posso falar muito ainda, um deles nem nome definido tem, mas é uma comédia, em que eu interpreto Laura, cortei o cabelo para esse papel. O outro filme, o que posso dizer, o nome é “Sob o Signo do Medo”, é um filme de época, se passa nos anos 1970, e vai ser rodado no sul. Ah, e tem o Veneza”, que foi o primeiro trabalho que fiz depois de ser mãe, que me deu o Kikito e depois o Festival de Cinema de Los Angeles, e concorre em nove categorias no 21º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Só de ser indicada eu já estou feliz, estou ali entre Zezé Motta, Claudia Breu, Bárbara Paz. É muito gratificante. Espero que com essas nove indicações as pessoas se animem a ver, porque o lançamos em plena pandemia. “Veneza” é um filme que eu tenho um carinho e uma admiração que penso que todos deviam ver esse filme, é pura poesia.