
Ferragamo, outono-inverno 2023 (Foto: Divulgação)
Quando Maximilian Davis foi anunciado como diretor-criativo da Ferragamo, a moda foi tomada por expectativa e ansiedade gerais para a estreia do londrino de 26 anos na casa italiana. O début, que aconteceu em setembro passado, trouxe mais de uma surpresa: novo logo, nova cor e a retirada do nome “Salvatore” na marca. Mas se a impressão final foi de uma revolução total e avessa às tradições do ateliê (quase) centenário, o novo desfile da Ferragamo, na Semana de Moda de Milão para a temporada de inverno 2023, revelou o respeito e admiração profundos de Davis pelo fundador.
Nessa estação, o estilista mergulho nos arquivos e voltou no tempo direto para a década de 1950, revivendo o glamour clássico do cinema antigo e resgatando a ligação íntima da marca com Hollywood. Salvatore Ferragamo, afinal, viveu e trabalhou na Califórnia entre 1915 e 1927, antes de voltar para a Itália e fundar seu próprio ateliê de calçados em Florença.
Ao longo da carreira, reuniu clientes ilustres que se tornaram verdadeiras seguidores fiéis, como Marilyn Monroe, Jean Harlow, Greta Garbo, Audrey e Katherine Hepburn, Ava Gardner, Rita Hayworth e Ingrid Bergman. Gloria Swanson também esteve entre as atrizes que se beneficiaram do talento de Ferragamo, usando um par de sandálias pretas com laços brancos para protagonizar o filme “Sedução do Pecado”, em 1928. Uma década mais tarde, em 1938, o sapateiro criou um modelo plataforma exclusivamente para Judy Garland, marcado pelas cores do arco-íris – um design entrou para história como um dos mais icônicos do século 20.
Para além das estrelas hollywoodianas, mulher anônimas puderam desfrutar igualmente dos calçados luxuosos de Ferragamo, que criou, em 1956, uma sandália em ouro 18 quilates para uma cliente australiana. É esse item histórico que, na última coleção da marca, inspirou Maximilian Davis a criar alguns dos sapatos que brilharam nos pés das modelos, cruzando a passarela em look igualmente inspirados na beleza retrô. Tudo, claro, envolto em um twist moderno!
O que marcou a paleta da coleção (que misturou visuais femininos e masculinos, assim como na estreia do estilista) foram cores sóbrias, do marinho e preto ao cinza e branco, com pinceladas vibrantes de cor. O amarelo surgiu em, pelo menos, dois looks, mas a extravagância protagonista foi do novo vermelho Ferragamo. Aqui, ele surgiu não apenas em detalhes de acrílico e acessórios, mas em visuais completos, incluindo um casaco de pele artificial – uma das principais tendência da temporada.
As bolsas vieram em proporções enormes, elegantes, que trouxeram para o maximalismo o toque minimal que permeou todo o desfile. O modelo Wanda (batizado em homenagem à viúva de Ferragamo) voltou em novas versões, assim como um outro, nascido em 1998. Apesar das novidades – e diferente do que aconteceu na última temporada –, os acessórios apareceram como “atores” coadjuvantes na fantasia cinematográfica do diretor-criativo para a estação, que privilegiou as roupas. Nelas, não faltou nem mesmo um quê de fetichismo, vindo em forma de lamês brilhantes e couros envernizados.
Se Maximilian Davis deixou uma impressão final em sua segunda “aventura” nas passarelas da Ferragamo, é de que a marca promete se firmar como um ícone de modernidade absoluta, mas sem nenhuma intenção de abandonar seu passado e legado riquíssimos em luxo e glamour.