Se o biquíni é caso sério brasileiro, o jeans é seu affair mais famoso. Quiçá, até seu mais escandaloso. Na história da moda, surgiu ainda no século 19 (em 2023, comemora 150 anos desde que surgiu com a icônica etiqueta da Levi’s) e, nos “anos azuis” – como a década de 1980 ficou apelidada por aqui – o denim começou casos de amor e guerras: os modelos Fiorucci acenderam paixões eletrizantes, enquanto a rixa entre a Zoomp e a Forum, de Tufi Duek, marcou um momento belicoso na história da moda nacional. Pela democracia ou pela rebeldia, é a chama índigo do jeans quem queima nesse Brasil, País de brasa quente, quentíssima – e ainda dizem que azul é cor fria!
Quando essa faísca surgiu, o palheiro tropical era caótico. Com um pouco do minimalismo japonês e a praticidade dos yuppies, e muito da anarquia punk e da naturalidade New Age, o jeans floresceu rápido debaixo da linha do Equador. O prêt-à-porter nacional agitava o guarda-roupa brasileiro, para o horror de costureiros como Dener, Esper e Castellana. Nem mesmo todo o glamour disco de Markito conseguiu segurar a onda azul que chegou para dar um “caldo” nos “surfistas” fashion tropicais.
Nas novelas, os jeans Staroup voavam das telas direto para as ruas e campanhas publicitárias, que logo se encheram de índigo blue. Em 1981, até Clodovil Hernandes entrou na roda e lançou sua própria linha denim, anunciando tudo com a imagem de um cacho de bananas cobertas de tecido azul. No slogan, “jeans sabor Brasil”. Que sabor é esse? De juventude e velhice, tudo junto e misturado.
Nas temporadas recentes, foi ele mesmo, o jeans, o assunto do momento. No imaginário popular nacional moderno, as iterações são várias. Na Ellus, por exemplo, a coleção de comemoração dos 50 anos da marca, em novembro passado, veio cheio de shapes e lavagens prontinhos para agradar dos gostos mais clássicos aos mais avant-garde, como a Gen-Z bem gosta. Na passarela, Jade Picon e Fernando Casablancas (cover boy da edição de estreia da Harper’s Bazaar Man brasileira), estavam de prova. Sob o comando de Adriana Bozon, o tecido era até assinado: a Vicunha, empresa brasileira especializada em jeans desde 1967, forneceu o material.
Ronaldo Silvestre e a marca Martins, do estilista Tom Martins, seguiram no mesmo ritmo, levando o visual para suas próprias coleções com o apoio da Santista, uma das maiores produtoras de denim brasileiro, fundada em 1929.
Com a filosofia de incentivar a criatividade, não é difícil encontrar seus frutos espalhados pelas passarelas de outros designers novos da cena nacional, como Mônica Anjos, Álex Santos, Vinicius dos Neves, Jorge Feitosa, Guilherme Amorim… Resultado? Denim galore!
O fascínio com o tecido, afinal, já é vintage. Em 1982, surgiu a Associação Brasileira do Jeans e a década assistiu ao boom do blue, com uma lista cheia de “gênios”, da Soft Machine, Mac Chad e Staroup à Gledson, Zoomp, Fiorucci e Forum.
Hoje, o tabuleiro virou e os bispos são outros: Bold Strap, À La Garçonne, Another Place, Dendezeiro, Led… e enquanto a calça (no máximo a jaqueta) era quem assumia todo o protagonismo do estilo lá atrás, o visual agora é multifacetado.
Nas últimas coleções, veio em tudo e para todos: shorts, saias, corpetes, coletes, blazers e até maiôs. Para o denim, a única resposta virou “sim, sim, sim!”.