Wes Gordon no desfile da Carolina Herrera no Rio de Janeiro – Foto: Zé Takahashi/Agência Fotosite

No início de 2018, Carolina Herrera, a própria, escolheu Wes Gordon, então um designer independente com passagens por ateliês de Oscar de la Renta e Tom Ford, para assumir a direção criativa de sua marca. Desde então, ele reconectou CH com a mulher ousada, confiante e divertida (mas eternamente elegante) que sempre foi a musa da label – atraindo nomes como Meghan Markle.

No dia em que a apresentação de sua coleção resort 2024 sofreu uma reviravolta e foi interrompida pela chuva, no alto de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, com vista do Pão de Açúcar, da Baía de Guanabara e do Cristo Redentor, Wes recebeu jornalistas com uma calma, leveza e simpatia, que contrastavam com o momento de tensão vivido pouco antes.

O desfile foi uma experiência inesquecível para todos – nos bastidores e do lado de fora. Cores elétricas e vibrantes, poás e volumes resumiram a visão criativa de Wes Gordon, que foi só elogios ao Rio, à equipe que lhe deu suporte aqui e, sobretudo, às modelos a quem chamou de “verdadeiras heroínas”.

No casting 100% nacional, desfilaram nomes como Rita Carreira, Carol Trentini, Isabeli Fontana e Carol Ribeiro que não puderam desfilar para os convidados, mas acabaram se “jogando” na pista de dança com eles. Foi lindo! Para Wes, “um dos momentos mais emocionantes de sua vida”, como conta a seguir:

A primeira pergunta, como não poderia deixar de ser: por que a escolha do Rio de Janeiro para sediar o primeiro desfile de Carolina Herrera fora dos Estados Unidos?

Para mim, como designer, o Rio sempre teve aquela ideia de mágica, de algo inspirador. Minha percepção sobre o País e a cidade tinha essa ideia de cor, de prazer, de música, que eu amo, vida, energia e otimismo. São todas as características que tento incorporar em Carolina Herrera. Foi a minha primeira vez aqui e todas as coisas que aconteceram superaram as minhas expectativas. Encontrei pessoas felizes, gentis, vibrantes. Há um prazer de viver nelas. Quando escolhemos os destinos em que apresentaremos uma coleção, nós designers, como story tellers que somos, tentamos concretizar uma ideia e uma imagem que temos na cabeça. Trazer as pessoas a um destino lindo como o Rio é mágico. Claro, não podemos controlar a chuva (risos)… As modelos foram as verdadeiras heroínas. Insistiram em desfilar, mesmo sob a chuva e água que tomou conta da passarela, para o registro para as câmeras de TV. Sem a energia e o apoio delas, o show não teria acontecido.

Qual foi a ideia da coleção?

Desde os meus primeiros desenhos, já sabia que o desfile seria no Brasil. A coleção tinha essa energia, esse mood, associado aos códigos da marca e ao DNA de Carolina Herrera. Mas tinha muita cor, tentei infundir algo mais sensual, mais colado ao corpo. Tinha esse espírito mais relaxado que queria trazer.

De onde vem esse seu lado divertido da moda?

Não é uma escolha, é quem eu sou. Tento ser o mais feliz possível, trazer um trabalho bonito e poético. A resposta para o lado “escuro”do mundo é trazer a ele mais cor e alegria. O mundo precisa mais disso.

O que você acredita que vai levar do Brasil dos dias que passou aqui?

As pessoas, definitivamente. Vou guardar os brasileiros na lembrança. Todos estavam tão entusiasmados em receber Carolina Herrera aqui. Todos que trabalharam no show eram daqui, ou do Rio ou de São Paulo. As modelos, as músicas, os profissionais de cabelo e make-up, a produção – eram todos brasileiros. Não tentamos em nenhum momento recriar o espírito nova-iorquino no Brasil. As pessoas aqui sorriem o tempo todo – o oposto da seriedade que tentamos fingir em Nova York. E, claro, o Brasil tem também os corpos mais lindos que já vi na vida. Dinheiro nenhum do mundo me faria tirar a camisa aqui, na praia. É uma loucura! Amaria trazer meus filhos ao País qualquer dia.

O que você imagina levar do Brasil para suas próximas coleções?

Levaria para a próxima coleção Isabeli (risos)! Ela andando na passarela, mesmo sob chuva, segurando os vestidos e de salto alto… é essa a atitude e esse espírito que são a ideia da mulher Herrera. Confiante, fabulosa, envolvente, como todas as modelos que desfilaram a coleção. Ela é minha nova musa.

Algum look conseguiria traduzir tudo o que aconteceu nessa noite, pega de surpresa pela chuva?

Para mim, um momento mágico foi o do último look, inspirado nas ondas do icônico calçadão de Copacabana. Eu o vi milhões de vezes, mas ao vê-lo essa noite, a modelo andando na chuva, com os pés descalços, as gotas d’água como brilhos na sua superfície, foi incrível. Foi poético, uma experiência dramática e muito emocional.

Falando sobre a mulher Herrera, o que é para você a feminilidade em 2023?

Eu não diria que há necessariamente uma abordagem única para a feminilidade. Tento fazer roupas certas para todo tipo de mulher, com diferentes tipos de corpos, idades, geografias. Quero que todas vistam-se com a capa de “heroína”. A ideia de uma vestimenta que amplifique a sua força para que possa mostrar ao mundo quem você é por dentro.