
“Tarsila Amarela”, coleção da WTNB por Ana Clara Watanabe – Fotos: Divulgação/Fernando Schlaepfer
Ontem, já quase à meia-noite, cortei um mar de gente bonita para chegar até a Ana Clara Watanabe, fundadora da WTNB. Vi a diva-divina Renata Bastos, o estilista Antônio Castro (da Foz, de quem eu nunca esqueci os chapéus de ouricuri), o darling PR Rodolfo Vieira, guru de skincare, o modelo-artista freudiano Pedro Brantes, a dupla chic-vampiresca Lucas Danuello (designer, na Greg Joey) e Ana Carolina Sabadin (make-up artist), o príncipe lucífugo Thiago Miguel… Mas ali, pertinho do DJ e no topo do Martinelli, achei a estrela da noite tentando esconder o isqueiro do vento. Emprestei o meu e, enquanto o fogo resistia, falei que seu desfile mais cedo tinha sido uma obra de arte. Menti. Foi muito mais: poesia.
Séculos atrás, no Japão, surgiu o haiku, um tipo de poema curto, com três versos – exatamente como o primeiro desfile da WTNB naquela passarela arranha-céu. Imaginem só: com “apenas” dez looks, Ana Clara criou um espetáculo digno dos kabukis e nohgakus mais extraordinários – e ainda com perfume brasileiro.
Acontece que, para além da ascendência japonesa, a estilista traz raízes de Pindamonhangaba, onde cresceu antes de parar na metrópole. Nessa vivência entre o rural e o urbano, encontrou referência nos trabalhos modernistas de Tarsila do Amaral, três dos quais acabam de completar um século e dialogam com a industrialização tropical.
“Simples” assim, surgiu “Tarsila Amarela”, com modelos-samurais belíssimos (incluindo Dries van Steen e Fabricio Santana) em visuais arquiteturais e cheios de detalhes. É uma grande mistura de geometrias, dos elmos de papel aos patchworks em denim regenerativo (Vicunha) e botões criados com resíduos de café (Corozitas). É de fazer os olhos viajarem!
Nesse sentido, aliás, acabei reparando em um pássaro enorme no topo de um dos prédios vizinhos que, com o vento forte, ficou ensaiando se decolava ou não. Só quando o Timoteo Yun apareceu com uma roupa enorme, pronta para voar (quase achei que ia ser levado pela brisa), que a ave tomou coragem e bateu as asas. Lá do céu, ficou sobrevoando a cobertura para assistir ao desfile também. Vai ter muita história quando voltar para o ninho…