Noiva democrática: tendências de vestidos vão do romântico ao ultrassensual

Cada vez mais democráticos e prontos para quebrarem as regras, os vestidos de noiva deixaram no passado aquela versão nababesca à Lady Di para embarcar em traçados minimalistas e chiques. Mas isso não quer dizer que o traje espalhafatoso, carregado nas mangas bufantes, esteja fora do set list.

Neste momento, o modelito over, que traduz a essência pitoresca dos anos 1980, dá espaço para que as composições neutras e modernas sejam vistas – e revistas. Nos catwalks europeus que tomaram o calendário recentemente, a moda exibiu proporções renovadas, com duas peças em trânsito livre.

Calças fazem dobradinha com capas compridas, a exemplo do que Christian Dior configurou para a temporada, ou com um simples corselet cheio de babados e arrematado por fita preta, de Chanel – uma forma de deixar o visual despojado, conectado com uma mulher que esbanja personalidade e que faz questão de ditar as próprias narrativas.

Um passo à frente, e o resort 2023 da mesma maison de Gabrielle Chanel veio com proposta de casamento à beira-mar, também na vibe da duplinha: top franzido e saia de cintura alta, feita de rendas sobrepostas.

Nessa mesma levada, Alexander McQueen reconstruiu o que seria um vestido básico para uma noiva padrão – e tratou de cortar a peça em duas e arrematar as partes com tiras verticais que deixam parte do corpo à mostra. Os bordados feitos à mão com pedrarias trazem um quê anarquista para o mood, assim como os acessórios que completam o estilo – coturnos nos pés, joias pesadas e óculos com lentes translúcidas.

Valentino, em seu show couture orquestrado por Pierpaolo Piccioli, manteve os códigos da alta-costura intocados, mas mudou os seus valores (e obrigou o público a enxergar o futuro). A coleção batizada de “Anatomia da Costura” celebrou a corporalidade e o ageless, com volumetrias colossais, sobreposições e paleta de cor que abraçou do branco ao néon. Algumas criações, nitidamente inspiradas nas divas hollywoodianas da década de 1950, moldaram os contornos em desenhos curvos, ressaltando o sex appeal e o domínio sobre a própria identidade.

Já a Rodarte escolheu ressignificar o traje da bailarina que rodopia freneticamente pela caixinha de música, em uma atmosfera absolutamente onírica. O cetim cor-de-rosa é visto em quase toda a coletânea, também idealizada com tubinhos cintilantes e vestidos-camisolas, que ora ganham a companhia de boleros de tule, ora parecem emprestados dos tablados do flamenco.

Miu Miu, que abalou a crítica com a sua microssaia, pontua alternativas para quem tem a alma transgressora. Para a grife, até rola trocar as alianças a bordo de um conjuntinho hipercasual, que pode ter plumas, transparência e comprimento sintetizado.

O revival sessentinha veio na apresentação de Giambattista Valli, que há algum tempo brinca com a estética do míni e com o tule arquitetado em múltiplas camadas. Mas, sem se perder no passado, o estilista colocou em cena uma coleção recheada de organzas bordadas e de detalhes idealizados com tule estruturado – tudo alinhado com acessórios explosivos, o que garantiu um ar cool à noiva.

Para fechar as trends da estação, Jean Paul Gaultier, ídolo de quem percebe a moda como ferramenta social, preferiu trabalhar com elementos cênicos e tecidos reveladores. A ideia da grife é investir numa pessoa autêntica, que sabe exatamente o que vai fazer no futuro. São para essas mulheres poderosas que a moda bridal tem-se reinventado constantemente.