Foto: Vanessa Bumbeers/Netflix

Doce, meiga e sorridente: assim é a baiana de Feira de Santana Agnes Nunes, 20 anos. A artista, que cresceu em Jericó, na Paraíba, recebeu a Bazaar para uma conversa sobre carreira no hotel Fasano, em São Paulo. Agnes está com agenda lotada – ela embarca para a Europa no próximo dia 14 e fica um mês rodando diferentes cidades fazendo shows por Barcelona, Berlim, Dublin, Florença, Lisboa, Londres e mais. Na volta, no dia 5 de maio, já tem show no Brasil, no Blue Note, em São Paulo.

Para a turnê, Agnes viaja com seus pianista e guitarrista, e vai apresentar sua mais recente música, “Terezinha”, que ela fez para a avó, além de ter como shows de abertura a jovem goiana Mari Fróes. “Minha avó representa muito para mim, ela é uma força feminina muito grande, e que tem uma influência gigante na minha vida, eu fui criada por ela e pela minha mãe”, diz.

Nos novos singles que a cantora deve apresentar ainda este vem “Confesso”, feat com Mari Fróes, e outras parcerias com o cantor Taylan. Todos eles são da Bagua Records, gravadora de Agnes. “A Mari é uma coisa cantando, é uma maravilha, ela tem uma interpretação única de qualquer coisa que faça.”

Leia a seguir entrevista que Bazaar fez com a artista.

Fale sobre “Terezinha”, sua mais recente canção?

Então, “Terezinha” foi uma música que nasceu de muita saudade, sobretudo. Nasceu quando eu estava na Bahia, em outubro de 2022, foi uma época em que eu estava com muita saudade de casa, eu sou uma pessoa que é muito apegada à família. E eu também pensei que muitas pessoas que, como eu, saem cedo de casa para buscar os seus sonhos, também pudessem sentir a mesma coisa, é um sentimento só. “Terezinha” fala sobre essa saudade do colo da avó, o quanto é bom, né? Eu saí cedo de casa para ir atrás da minha carreira, e nisso você tem de abdicar de coisas, e uma dessas coisas foi o tempo com a minha família. Então é uma música muito sentimental que fala sobre isso, sobre o amor.

Em que se inspirou para falar sobre sua avó?

Minha avó representa muito para mim, ela é uma força feminina muito grande, e que tem uma influência gigante na minha vida, eu fui criada por ela e pela minha mãe. Praticamente tudo o que sei na minha vida é por conta da minha avó. Por isso que eu falo que quando eu penso nela, o coração aquece. Pensar na minha avó faz eu me sentir em casa em qualquer lugar.

E que retorno que você teve dessa música por parte dela?

Ah, ela amou. Tem um áudio que ela me mandou falando um monte de coisas bonitas, ela até chora, e agradece muito, diz que que todo mundo está ouvindo. Ela diz: “Já é sucesso, minha filha… Meu tesouro você é”. Ela é um poço de amor e de sabedoria.

Qual a importância dela em sua trajetória?

Com certeza é a força de sempre olhar para frente. Minha avó é uma mulher muito, muito, muito forte. Ela viveu violência doméstica muito tempo atrás, teve que criar minha mãe, e me criou. Ela sempre olha para frente, ela nunca olha para trás. Essa eu acho que é uma das maiores coisas que eu tento pegar da minha avó. Há várias situações em que eu imagino fazer o que minha avó faria.

Você deve morrer de saudade dela…

Afe, Maria! Ixi…

Você a viu recentemente?

Eu tive com ela um mês atrás. Também com minha mãe e meus dois irmãos. Foi bom demais.

Qual sua expectativa com a nova turnê pela Europa?

Eu estou muito feliz… Agora é a segunda vez, né? Eu nunca imaginei que minha música pudesse ultrapassar as fronteiras do meu próprio País. Eu vim de uma cidade pequena lá do Nordeste, e as expectativas para mim não eram tantas. Mas tudo isso é reflexo de muito trabalho, obviamente, mas também de muita música, arte, representatividade, sobretudo. Quantas meninas não estão por aí postando seus vídeos? Cantam maravilhosamente bem, tantos artistas novos que estão vindo. Tem um pessoal lá do interior do Nordeste, ou mesmo daqui de São Paulo ou do Rio, que olha e vê que pode acontecer.

E agora você volta para a Inglaterra, e vai para Berlim.

Eu estou muito ansiosa. Se pudesse descrever os meus sentimentos, eu diria ansiedade, e muita gratidão. É muito bonito quando você vê pessoas em diferentes países cantando a sua música, tem gente que chora, e alguém sem entender o que você está falando (risos). Está compartilhando o mesmo sentimento. Então foi mágico, e acho que desta vez será mais mágico ainda. E também agora a gente vai com a Mari Fróes, que tem a mesma gravadora que a minha, a Bagua Records. Ela vai fazer a abertura dos meus shows, e vai ser lindo.

Foto: Brénda Lïz

Você já gravou alguma coisa com ela?

Já tenho coisa gravada com ela já. É muito gostosa a troca que a gente tem no estúdio. A admiração mútua faz com que tudo flua muito bem. A gente troca muita escrita também, ela toca violão e eu, piano. E está vindo muita coisa aí com a Mari (risos) … Lanço em breve a música “Confesso”, que nós gravamos juntas.

A escolha de Mari Fróes para abrir os shows foi sua ou da gravadora?

Foi uma escolha nossa, em conjunto.

E como vocês duas se conheceram?

Na internet. Eu via os vídeos dela e elas os meus. Começamos a falar e viramos amigas. Mas a Mari é uma coisa cantando, é uma maravilha, ela tem uma interpretação única de qualquer coisa que faça. É uma jeito muito “Mari” de ser (risos)… De cantar, de interpretar. Eu disse, essa menina tem que estar aqui, para andar junto, foi uma paquera que deu muito certo.

Tem alguma novidade no seu show?

Eu acho que o povo quer ver aquilo que eu realmente sou, então comigo estou levando meu pianista e meu guitarrista. Acho que meu show é como se fosse essa transição de menina para mulher, que é o nome do meu último álbum, “Menina Mulher”, vai ter “Terezinha”. Acho que vai dar para cantar “Confesso” [feat de Agnes Nunes com Mari Fróes, que é uma novidade]. Tem música para o público dançar, chorar… Eu espero que as pessoas sintam tudo intensamente.

Você acha que vai ter muito brasileiro nos seus shows?

Sim, Isso aconteceu em Lisboa, tinha bastante brasileiro, Porto também. Londres também tinha, mas estava bem misturado o público.

De que forma você aplica o empoderamento negro em seu trabalho, além das letras das músicas?

Eu tento sempre trazer esses assuntos à tona, porque são muito importantes, necessário para influenciar outras meninas. Por exemplo, uma vez me falaram que eu não poderia usar tanto blush por conta da cor da minha pele, que é mais escura, e eu sempre fiz questão de deixar claro como eu amo blush. Essas pequenas coisinhas assim que eu acho que dão força para meninos e meninas, entendeu? E para além disso, as minhas músicas, como “Cabelo Bagunçado”, é super leve, mas que fala sobre esse amor pelo cabelo black, e o próprio clipe também… Tem uma cena que eu amo, que é das trancistas trançando o meu cabelo, coisa que faz muito parte da minha vida, eu sempre faço trança, eu me acho linda de trança, eu sou linda de qualquer jeito (risos).

FotoL Lucas Nogueira

Acha importante ter um discurso de empoderamento nas redes sociais?

Feminismo e racismo são duas coisas que sempre que possível eu falo, até porque eu sou mulher, eu sou negra, nordestina, você olha para mim e não tem como não ver esse conjunto, é inevitável.

Com tão pouca idade, você já é uma artista de raízes na música, como você vê a evolução de sua carreira?

Eu estou chegando à conclusão que eu vivi muito em pouco tempo, e a evolução é uma constante. Sobre a evolução da minha carreira, eu quero que daqui a dez anos as pessoas ouçam a minha música, minha voz, e sintam como se fosse a primeira vez. Eu vivi muita coisa importante, por exemplo, ter cantado com Elza Soares, eu tinha 17 anos na época. Depois que ela morreu, vivi momentos que foram muito fortes para mim. Elza é uma das minhas maiores influências, inclusive foi por causa dela que eu assumi o meu cabelo black, eu tinha 12 anos quando isso aconteceu. Porque eu olhava para a Elza, eu a via em cima o palco, aquele vozerão, e eu falava: “Eu quero ser assim”. Se eu tiver ao menos um terço da força que Elza tinha eu vou ser a pessoa mais feliz do mundo.

Quais são os próximos projetos? Vem álbum novo por aí?

Tem a turnê, tem “Confesso”, e vou lançar vários singles. Álbum neste ano não. E tem outras parcerias, como com o Taylan [também da Bagua Records].

Você pretende cantar em outros idiomas?

Sim, sim. Às vezes eu escrevo algumas coisas em inglês, que eu gosto muito. E francês, que sou apaixonada.

Quando terá novos shows no Brasil?

Assim que eu voltar da Europa já vai ter show aqui em São Paulo, no Blue Note, no dia 5 e maio.