
Por Ana Ribeiro
Ela nasceu no Rio, cresceu no Leblon, passava férias na casa de praia em Búzios, fez faculdade de comunicação na American University of Paris, frequentou por seis meses a Eugene Lang College of Liberal Arts, em Nova York, se formou e voltou para o Rio. Quatro anos atrás, veio para São Paulo experimentar a vida aqui. Planejava ficar dois meses e nunca mais foi embora. “Nem sei como aconteceu. Eu fui ficando”, simplifica.
No apartamento onde mora, e onde também funciona o ateliê de sua marca de acessórios, moda e arte, Discreta Estúdio, Patricia Matz vive cercada de objetos que colecionou nas viagens – “Não consigo resistir quando vejo uma coisa bem local”, explica – e também daqueles com que conviveu a vida toda. “Olha esse leão”, aponta ela para a cabeça do animal feita de corda. “Nem sei se acho feio ou bonito, mas cresci olhando para ele.”

Quando se mudou para o prédio antigo com rampa de acesso, em Higienópolis – a construção data de 1965 -, o colorido dos ambientes aumentou consideravelmente. “Obra não teve, mas maquiei o espaço inteiro”, diz ela, que cobriu as paredes de trabalhos seus e de outros artistas que adquiriu recentemente, além daquelas peças que resgatou de caixas na casa da mãe e da avó, e que fazem parte da sua história. “O leão ficava diante da mesa de jantar, em Búzios. A casa não está mais na família, mas ele ainda está aí.”

Patricia tem 30 anos. “Às vezes, me sinto com 60, outras com 16”, resume. O comentário dá conta de sua juventude, da liberdade que tem para experimentar, e também do seu gosto por coisas antigas. “As peças mais especiais que tenho no meu guarda-roupa são as que herdei da minha mãe e da minha avó materna, Helena.”

Ela confessa que estava meio perdida quando desembarcou em São Paulo. Sabia que queria dar um tempo do Rio e da oficina de joias que tinha lá. “Vendi tudo e vim, sem saber o que estava procurando.” A primeira coisa que fez, logo ao chegar, foi procurar a professora de bordado Flavia Lhasser, com quem tinha tido aulas no Rio. O grupo de bordado foi fonte de novas amizades e o começo de um novo caminho profissional. “Logo fiquei boa na técnica, fui convidada para dar cursos e comecei a ser chamada para fazer alguns trabalhos”, relembra.

Nesse meio tempo, foi fazer uma formação em artes plásticas na Escola Panamericana de Artes, que fica bem perto de sua casa – ela caminha até lá. “Comecei a aprender outras técnicas, a experimentar coisas diferentes, fiz projetos que envolvem adereços e alguns figurinos para sets de filmagem.” No início do ano passado, recorda que estava “um pouco de bobeira” e, com vontade de se movimentar, lembrou-se da paixão que nutria pelo Carnaval de rua no Rio. “Durante um tempo, eu vivia para isso. Fazia adereços para os blocos e, assim que terminava o carnaval, eu começava a me preparar para o ano seguinte. Sempre produzi minhas próprias fantasias, e as pessoas me paravam na rua para perguntar.”

Fez a primeira coleção da Discreta sem compromisso, sem nem saber direito onde ia vender, mas, de novo, as coisas foram acontecendo. “Não tenho pretensão de virar uma grande marca e também não quero deixar de fazer os outros trabalhos. Gosto de tudo o que faço. Gosto de poder equilibrar um tempo sozinha no meu ateliê, com uma parte do trabalho em que preciso de ajuda. Também gosto de fazer parcerias, porque aí tem uma troca.”

Algumas das que já fez foram com Ju Gastin, Monique Argalji e Stephanie Sartori. Entre os planos para este ano estão terminar o curso na Panamericana e encontrar um lugar para instalar o ateliê fora do seu apartamento. E o Carnaval? A produção das peças está a pleno vapor, mas Patricia está pensando em não comparecer. “Esse é o primeiro em que acho que vou faltar”, diz ela, deixando aberta a possibilidade de mudar de ideia na última hora.

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