
Fernando Casablancas veste Ellus – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
Se os olhares felinos e as poses eletrizantes durante a sessão de fotos para esse editorial não foram suficientes para notar, a conversa que se seguiu, de quase uma hora, provou que Fernando Casablancas é uma força da natureza.

Blazer, calça e botas Ellus – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
Na passagem breve por São Paulo, o modelo fechou um desfile em uma noite do São Paulo Fashion Week, animou como DJ uma after-party na mesma madrugada, posou para Bazaar na manhã seguinte e, mesmo já preparado para pegar o voo algumas horas depois, não deixou o cansaço vencer a personalidade e humor faiscantes. “Foram menos de três dias em São Paulo, mas com muita intensidade”, diz, arrumando o cabelo comprido que já se tornou uma de suas principais marcas.

Blazer Dolce & Gabbana – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
Não foram apenas esses três dias. Toda a sua vida é intensa. Para começar, é um dos filhos meio-brasileiros de John Casablancas, o empresário fundador da agência Elite, responsável por lançar na moda algumas das maiores supermodelos (pense em Cindy Crawford, Naomi Campbell, Linda Evangelista e Claudia Schiffer).

Fernando Casablancas (Way Models) usa look total Louis Vuitton – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
Desde os 18 anos, vive em Nova York, onde começou estudando teatro experimental (“e experimentei muito, de tudo”, brinca) e descobriu, no palco, que poderia ser quem quisesse. A cidade tem protagonismo no processo de autodescoberta e aceitação de Fernando como uma figura queer. Quando ele voltou brevemente ao Brasil, durante uma crise pessoal, não demorou para entender que era na Big Apple onde encontraria as respostas para as dúvidas. Encontrou mais do que isso.

Míni bolsa Fendi – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
“Quanto mais eu me entendia e me descobria, sem culpa de ser quem eu sou, mais as pessoas me enxergavam. Quando você está sendo quem você é, as pessoas notam. E percebem, também, quando você só está sendo uma porcentagem de si”, reflete sobre a identidade não-binária.

Trench-coat, calça e botas Ellus – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
Se hoje Fernando trata o assunto com naturalidade, admite que não foi um processo fácil. “Chegou uma hora em que eu explodi, me soltei demais, e me perdi. Foi um momento em que me afastei da minha família”, lembra, citando a mãe (evangélica e casada com um pastor) como seu porto-seguro desde que o pai faleceu há quase uma década.

Bermuda Christian Dior, tênis Prada e colares de seu acervo pessoal – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
Um dos momentos mais importantes da relação dos dois ficou eternizado em “The Come Up”, reality show que estreou em 2022 e que acompanha a jornada de seis jovens em Nova York (Fernando entre eles) em busca de seus sonhos. “Foi um ano muito importante na minha vida, que me mudou completamente. A série acompanhou e capturou isso. Em um dos episódios, tenho uma conversa especial com a minha mãe, em que ela entende que eu estou fazendo exatamente o que eu deveria.”

Look total Prada – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
Sem nenhuma vergonha de estar em frente às lentes, Fernando compara as câmeras com sessões de terapia. “Eu acho que ela tem esse efeito de fazer eu me abrir. Sempre fui um performer, nunca me segurei. Poder fazer disso uma carreira é um privilégio enorme. Quando mais eu faço, mais eu me descubro. Em um estúdio, mesmo com um cenário simples, através do movimento, da curiosidade, é possível descobrir personalidades e personagens novos. Eu sou muito fluido, então eu deixo fluir”. Nas passarelas, não é diferente: “são como palcos. E se não for para causar, eu nem vou”, ri.

Tricô Prada, bermuda Ellus e tênis Balmain – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
E causou, muito, já no seu primeiríssimo trabalho no Brasil: o desfile da Ellus, em que terminou ao lado de Jade Picon, ao som do eco de aplausos. No backstage, a influenciadora perguntou o que ele pensa enquanto desfila. A resposta? “Eu só sinto o ritmo”. Mesmo com toda a confiança conquistada, não deixa de brincar com a própria carreira e refletir sobre a indústria: “eu não a escolhi, ela me escolheu. Nunca achei que pudesse ser modelo. Crescendo com meu pai, eu vi uma era de supermodelos completamente diferente do que existe hoje. Mais limitada, menos diversa”.

Look total Fendi – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
As mudanças são bem-vindas, mas ele admite que sempre sonhou com o passado glamoroso vivido pelo pai, com menção especial ao Studio 54. Hoje, esse cenário de festas já faz parte da rotina. Como DJ (oficialmente, seu nome para as noites é “Secret”, a mesma alcunha que usou como drag queen, junto com “Baby Whitehouse” e “Mirangela”) vive intensamente a nightlife agitada de Nova York, mas confessa sua maior saudade em relação ao Brasil: “Sinto falta do brasileiro. A energia, o calor, a sensualidade e a ginga que só ele tem.”

Colete e calça Gucci e sapatos Saint Laurent por Anthony Vaccarello – Direção de arte e foto: Alexandre Furcolin, com edição de moda de Rodrigo Yaegashi e beleza de Patrick Pontes
Ainda sobre o pai, diz que herdou mais aprendizados do que conexões para construir a carreira que tem hoje. “Ele era muito generoso e sou muito orgulhoso do legado que ele deixou”, lembra. Fernando é familiarizado com o termo nepobaby – uma expressão em inglês, que une as palavras “nepotismo” e “bebê”, usada para se referir aos filhos dos ricos e famosos que conquistaram as carreiras graças aos pais. “É fácil me julgar e dizer que sempre tive tudo por ser um Casablancas. Mas isso não desvaloriza os meus desafios e batalhas. Todo mundo tem as suas. Trabalho muito e esse é o único jeito de continuar.” Afinal, o show tem que continuar – e literalmente. Nas redes sociais, seu perfil é @TheFernandoShow. A vida não pode ser menos que um espetáculo. E por que não? “Prefiro não viver a viver uma vida que não seja icônica”.