Por Cris Peixoto
Era uma tarde quente de verão quando Ana Beatriz Lerario-Geller me recebeu no seu showroom, em um espaçoso loft em Tribeca. O prédio não poderia ser mais nova-iorquino: a entrada, sem glamour, abriga no térreo um brechó, enquanto uma escada leva a um estúdio de ioga e balé. Um único e antigo elevador de carga, que tem lá o seu charme, serve a todos os inquilinos.
A sensação de autenticidade que o lugar transmite é um dos pontos fortes, na opinião da estilista, que acaba de lançar a marca Anais. “É o reflexo de quem sou, do que uso no dia a dia”, explica ela. Aliás, o projeto é uma expressão tão forte da sua relação com a moda que o nome da marca é uma brincadeira com o seu próprio nome: Ana… is. “É verdadeira com o que acredito”, reforça a designer paulistana que partiu para Nova York no final dos anos 1990, logo após o término da graduação na Faculdade Santa Marcelina, com planos de fazer um curso de inglês de três meses.
Um estágio na Marc Jacobs fez Ana mudar os planos. “Quase morri de alegria quando consegui”, relembra. Estava dado o pontapé inicial de sua carreira. “Era uma época legal, porque a marca ainda era pequena, supercool e tinha acabado de entrar para a LVMH.” De estagiária, ela passou a braço direito do estilista Marc Jacobs, em quatro anos de empresa, com total liberdade para desenvolver suas ideias. A trajetória profissional ganhou outro rumo quando resolveu acompanhar seu então diretor, Richard Chai, para a TSE Cashmere, onde assumiu a função de head designer da linha TseSay Cashmere.
O próximo salto foi em 2005, com a criação do seu próprio showroom, FiftyTwo, que segue firme até hoje: além da marca própria, Lerario Beatriz – que comandou até 2011 -, o espaço apresenta outras ainda desconhecidas do grande público. Há cerca de seis meses, ela recebeu, de Los Angeles, o desafio de criar uma nova grife. Na Anais, sua paixão por bordados é evidente. A influência vem, por exemplo, de festas populares brasileiras.
A proposta é levar para o cenário urbano peças ricas em detalhes combinadas com jeans e chinelos, um de seus looks preferidos. “Não se trata de uma roupa preciosa, mas especial”, explica Ana, que também aposta no sustentável, driblando a ideia de estação e trabalhando com fábricas têxteis que tenham “selo verde”.
É esse caráter atemporal que permitiu uma ousadia: comandar o projeto à distância. É que Ana, o marido – o designer Robert Geller, que ela conheceu quando estava na Marc Jacobs – e as três filhas embarcaram há poucas semanas em uma viagem pelo mundo. “Não é um ano sabático, apenas diferente.” As meninas farão homeschooling e a estilista já tem mil planos de como combinar os livros de história medieval com visitas a castelos da época. Uma love story pessoal e profissional com cenas dos próximos capítulos.