Verachi – Foto: Divulgação

Existem as pessoas que falam e as pessoas que fazem. A designer Laís Demarchi, de 33 anos, não é do tipo que espera acontecer: acredita na força de ações sociais e ambientais e não mede forças para concretizá-las. Formada em moda, Laís fundou a Verachi em 2012, e, desde então, vem promovendo um impacto positivo na joalheria.

“Desde o início da Verachi trabalhamos com ouro de upcycling e fazemos contribuições sociais. Acredito que sustentabilidade vai além das grandes ações, está no dia a dia, na maneira como lidamos com as outras pessoas e com o mundo, sempre com respeito e responsabilidade, buscando impactar positivamente as pessoas e o meio ambiente”, afirma a designer à Bazaar. “Quando entendemos que fazemos parte de um todo, que estamos interconectados, ser sustentável torna-se um movimento natural”, conta.

Para ajudá-la nessa tarefa, a joalheira contratou uma consultoria especializada, a agência Pedra, para potencializar os caminhos responsáveis da marca e elevar a sustentabilidade como um pilar para a Verachi. Durante um ano, a marca estabeleceu compromissos diversos, como apoiar inúmeras organizações que investem no empreendedorismo feminino, além de definir uma presença maior de mulheres em sua equipe.

Mas a responsabilidade social de Laís e de sua marca não param por aí. Um desenvolvimento ético das peças é outra parte-chave do processo. O trabalho dos exploradores de pedras destinadas à marca, por exemplo, é fruto de uma mineração consciente, com práticas ambiental e socialmente responsáveis, e em áreas livres de conflito. A label, a primeira a se engajar no movimento The Future is Brilliant, criado por Ara Vartanian, que estimula a mineração consciente no Brasil, trabalha com a mineradora Belmont, em Minas Gerais.

Desde a compra de esmeraldas de mineração responsável, o rastreamento da cadeia de pedras e o compromisso com o manejo dos recursos ambientais e dos detritos gerados pelo processo, tudo ali é controlado. “A origem das pedras era uma preocupação para mim. Fui conhecer a Belmont pessoalmente e voltei com o coração mais leve ao ver com meus olhos que é possível ter uma joia linda, oriunda de uma mineradora que se preocupa com boas práticas socioambientais”, explica a designer.

Além disso, a redução de emissões atmosféricas e o reflorestamento de áreas degradadas também entram na cartilha de boa conduta. O processo de extração sustentável de pedras é relativamente recente na joalheria, que se abre lentamente à novas práticas, menos devastadoras ao meio ambiente. “Acredito que as marcas precisam se unir para buscar fornecedores que assegurem uma extração que respeite o ambiente e a sociedade. Vejo este movimento como uma nova forma de ser dentro de um mercado até então marcado pela postura não colaborativa”, afirma Laís.

A utilização total de ouro reciclado foi outro passo importante para a label, engajando clientes e joias antigas no processo de produção das peças, que utilizam, na maior parte, pedras brasileiras. As embalagens são outra preocupação da joalheira. Em parceria com a designer Luly Vianna, desenvolveu caixas, expositores, bandejas e sacolas sustentáveis. As caixinhas de joias são feitas com madeira certificada e os tecidos de fio PET e de algodão reciclado Eco Simple, têm certificações do Sistema B e do PETA.

Esse comportamento ético também é visível na nova coleção da Verachi, intitulada “Voo” – não apenas sustentável, mas de uma beleza e poesia que impressionam. Sensível à natureza, ela dedica a linha de preciosidades ao pai. “Ele é muito sensível à natureza e cuidava de filhotes de pássaros que apareciam em nossa casa em Porecatu, no interior do Paraná. Eu participava desses momentos e isso crescia em mim”, revela.

A pandemia também teve um papel fundamental na elaboração da coleção. “Passei a olhar mais para dentro e a me colocar de forma mais presente”.

A linha, composta por brincos, piercings, anéis e colares, traz as formas dos pássaros, asas, plumas e penas, adornadas com esmeraldas, diamantes e topázios. Todas as peças são moldáveis entre si. Montadas em ouro branco, amarelo, rosa e champanhe, uma mistura de 75% de ouro puro e outros 25% de outros metais, a coleção é uma ode à liberdade e à essência do voo. “É sobre meu voo e o de outras mulheres. Uma metáfora sobre a liberdade”, conta Laís.

A coleção é atrelada à uma doação para o Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense, organização liderada por Rita Teixeira. “O MMNEPA trabalha pela emancipação de mulheres por meio do empreendedorismo agroecológico. E consegue tirar muitas mulheres de situações de violência doméstica. Voar é para todas nós”, finaliza a joalheira.