Por Duda Leite
Após mergulhar de cabeça no universo da cantora e apresentadora Hebe Camargo e atrair para si os holofotes da novela “Um Lugar Ao Sol”, da Globo, como Rebecca – uma cinquentona que se apaixona por um rapaz bem mais jovem do que ela –, Andrea Beltrão está de volta às telas com o drama intimista “Ela e Eu”, segundo longa de Gustavo Rosa de Moura, em cartaz nos cinemas.
O filme estreou no 54º Festival de Brasília, em 2021, onde recebeu três prêmios: melhor atriz (Beltrão), melhor ator (Du Moscovis), e melhor roteiro, assinado por Rosa, Leonardo Levis e pela própria Andrea.
Ela vive Bia, uma ex-roqueira que desperta após 20 anos de um coma profundo e precisa se readaptar ao mundo. Foi a primeira vez que a atriz colaborou com um roteiro. “Foi muito legal, mas deu muito trabalho. Trabalhar com o Gustavo foi muito simples, no melhor sentido do termo. Ele tem uma boa escuta e sabe o que quer. Ele não tem medo das ideias dos outros. Muitas vezes eu dei ideias péssimas, mas ele não se abalava com isso”, diverte-se.
Ao contrário de seus outros trabalhos recentes, em “Ela e Eu”, Andrea aparece na tela totalmente sem maquiagem e com o cabelo grisalho, tudo para trazer o máximo de verdade à sua personagem: “Isso nunca foi uma questão para mim. O mais importante era a verossimilhança. Ter uma peruca bem-feita, que desse uma imagem mais próxima do real. O fato de estar sem maquiagem, na verdade, foi superconfortável. Chegava em casa com minha calça jeans e uma camiseta e era só tirar a peruca e pronto”.
Aliás, ela escondia um segredo sob os cabelos falsos de Bia. “Tinha quatro semanas para filmar ‘Ela e Eu’ e, em seguida, ia voltar para gravar a série da Hebe. Portanto, por baixo da peruca da Bia tinha a cabeleira amarelo ovo, que não podia tirar para a gravação.”
Muito mais difícil do que criar seu visual, foi interpretar de forma autêntica uma mulher que acorda de um coma após duas décadas, o que provoca uma mudança radical na sua vida familiar. Carol (Lara Tremouloux), sua filha, já é adulta, e seu ex-marido Carlos (Du Moscovis) está casado com Renata (Mariana Lima). Todos se veem obrigados a se adaptar à nova rotina. “Quando a família consegue se organizar e proporcionar um cotidiano de afeto e de presença com a pessoa que está doente, é o melhor dos mundos. Ao mesmo tempo, isso mexe muito com quem está em volta. É uma equação bem difícil que não é possível exigir de todos. Mas é muito bonito quando acontece”.
Uma das atrizes mais completas de sua geração, em “Ela e Eu”, Andrea chegou inclusive a gravar duas canções compostas por Lucas Santanna e Ava Rocha. “Sou muito fã dos dois. Foi muito divertido. Cantar faz parte do meu ofício. Se preciso cantar, vou lá e faço. Sou bastante disciplinada. É o mesmo que alguém chegar para mim e dizer que vou fazer uma personagem que vai pilotar um helicóptero. Faz parte do meu trabalho fazer coisas diferentes”.
Coincidentemente, nos seus trabalhos recentes, a música também esteve muito presente. Hebe era cantora e Rebecca tinha como trilha uma canção até então inédita de Rita Lee, “Change”. “Que luxo, né? Quando me disseram isso, eu falei: não posso acreditar! Eu fiquei em êxtase. E tinha Marina Lima também. A Rebecca tinha essas duas músicas, ou seja: eu não estava mal não. Estava bom à beça!”.
Incansável, a atriz está atualmente em cartaz no Rio de Janeiro, no Teatro Poeira, do qual é sócia com Marieta Severo, com a peça “O Espectador”, baseada na obra do romeno Matei Visniec. “Olha o elenco: Marieta, Renata Sorrah… já podia parar por aí, mas ainda tem Anna Baird e eu. Está sendo incrível! A dramaturgia é do Henrique Dias e do Márcio Abreu. A gente está com casa lotada até setembro”, orgulha-se a atriz, que pretende trazer o espetáculo para São Paulo no início de 2023.
Afastada das telenovelas por 20 anos, até a volta triunfal como Rebecca no ano passado, Andrea é uma apaixonada por tevê. “Tenho o maior tesão em fazer televisão. Sempre me dei muito bem, participei de programas excelentes. E sem tesão não dá! A gente nem estaria aqui. Adoro folhetins, com aquele monte de tramas, ler romances de mil páginas. Mas ainda não recebi nenhum convite para uma próxima novela. Estou esperando”. Fica a dica.
Enquanto conversava com Bazaar via Zoom, de seu apartamento no Rio, ao fundo, um quadro de Nelson Leirner, com um mapa mundi que se desfaz, emoldurava nossa conversa. “Tomara que não aconteça isso com o mundo”, desabafou. E como estamos em ano de eleição, não se esquivou de dar sua opinião sobre o futuro do Brasil: “Está bem puxado e não estou conseguindo me afastar dessa realidade brutal e bizarra. Mas, tenho esperança de que, com a eleição, a gente consiga tirar essas pessoas que estão no poder e não têm a menor vocação nem categoria para isso. Espero que a gente consiga tirá-las já em outubro. Sou pessimista, mas tenho esperança. Não acredito que vá tudo mudar de uma hora para a outra. Vai ser algo gradual. Veremos”. Oxalá!