24 Horas: Dandara Pagu

Foto: André Giorgi

Depoimento a André Aloi

Depois de ganhar o mundo como ícone em um app de áudio, Dandara Pagu vai estrear como roteirista em série de Anna Muylaert. A Bazaar acompanhou um dia da influencer e ativista recifense – conheça sua rotina abaixo:

9h

“Agora acordo mais cedo porque fiz uma promessa: se conseguisse me vacinar, faria exercício todos os dias. Então, levanto e faço 30 minutos de esteira. Estou dividindo casa com a Anna Muylaert (diretora do premiado “Que Horas Ela Volta?”, de 2015), minha amiga desde minha chegada a São Paulo (há cerca de cinco anos) vinda de Recife – época ruim de grana e de autoestima. Foi uma das primeiras a dizer que tinha de começar a trabalhar com a internet, mas tinha vergonha. Atuei como produtora cultural em peças, filmes, centros culturais… Estive em campo com As Baías, Liniker e Luedji Luna.

SIGA A BAZAAR NO INSTAGRAM

Chegou a pandemia, minha mãe pegou Covid-19 e todo o meu trabalho acabou. Inferno astral total! Conheci várias pessoas no Clubhouse (rede social de salas de bate-papo por áudio, onde teve a chance de conversar com Preta Gil, Luciano Huck e Boninho para citar alguns). Quando fizeram as boas-vindas aqui, falei: ‘quero ser a foto, hein?’. Lembro de ter brincado: ‘Vocês são donos do mundo, mas, eu, do Brasil! (risos).’ Depois, me chamaram para conversar por várias vezes e, finalmente, para ser o ícone do aplicativo. Meu rosto está ali, olhando para o futuro, sorrindo e quebrando paradigmas.

24 Horas: Dandara Pagu

Foto: André Giorgi

10h

Tomo banho, me arrumo e emendo o café da manhã – hábito que não tinha desde criança. Hoje, é esporádico: às vezes rola, às vezes, não. Gosto daquele gostinho nordestino, com direito a tapioca e cuscuz, ou uma banana com aveia e iogurte natural. Passo protetor solar e hidratante. Se vou fazer vídeo, já me maquio.

Começo a trabalhar, responder e-mail… Às vezes, fico no escritório de casa, mas o meu quarto também tem uma mesinha de frente para a janela, onde, geralmente, fico. Se estiver frio, posso estar debaixo das cobertas respondendo mensagens (risos).

13h

A gente tem a Raimunda trabalhando aqui, sempre deixa o almoço para a semana. Brinco que estou sendo maltratada porque a comida é sempre saudável e isso é um absurdo (gargalha). O cardápio sempre tem arroz, feijão ou lentilha, uma saladinha, peixe ou carne vermelha. Nunca tive ninguém para arrumar minhas coisas e agora tenho para cuidar de mim, como ela me falou esses dias. E o filme da Anna fala sobre isso, o respeito ao serviço doméstico e ter esses profissionais como colegas de trabalho. O ruim é quando isso vira um trabalho análogo à escravidão.

24 Horas: Dandara Pagu

Foto: André Giorgi

15h

Sempre reservo uma hora do dia para ler um livro a fim de resenhar, entender algum assunto ou pesquisar uma pessoa a ser entrevistada. Quando me perguntam como eu cresci tão rápido nas redes sociais, digo que não tem fórmula mágica. Acho nocivo quem vende isso. Depende da trajetória, energia… Na minha opinião, 70% são oportunidade e os outros 30% vão além da competência. Pouco de sorte, também. Tenho terapia uma vez na semana, e entender uma vivência pode render tema para algum vídeo. Vira uma troca coletiva porque essa humanização é legal. No fim, todo mundo está passando por alguma coisinha.

17h

Gosto de fazer vídeos mais no fim do dia, quando a luz é muito boa. Se tenho entregas, já faço e, quando acaba, abro uma live. Meu sonho na vida é ser apresentadora de televisão, virar a Oprah brasileira.

A internet é uma faca de dois gumes, né? No início da pandemia, comecei a usar como ferramenta de trabalho porque estava mal e sozinha. Tinha dois mil seguidores, agora estou com mais de 50 mil (no Instagram). É pouco para a mídia, mas muito para mim. Pessoas me acompanhando, me assistindo, uma galera massa, mas não deixo de ser eu nem de militar. Rio, faço piada, sou uma pessoa normal e isso é ótimo.

O podcast “Diz Tu” surgiu porque, quando ia como convidada (em outros), as pessoas ficavam falando: ‘você tem que fazer um podcast’. Nele, sempre conto alguma história da minha vida. Já participaram Marcela Ceribelli e Camila Fremder, as rainhas do podcast. O mês que passou foi sobre sentimentos e vivências, como amor, medo e a gente destrincha assuntos relacionados em tom de conversa.

No YouTube, por ter mais tempo, pego situações que me mandam no Instagram: já fiz sobre religião, racismo, relacionamento abusivo… No Clubhouse, tenho programação semanal: segunda tem o “Boa Noite, Impostora”, com a Dani Arrais, em que falamos sobre essa síndrome, “Quarta às 20h”, com Kya Mesquita (astróloga e ativista antiproibicionista), conversamos sobre legalização das drogas, maconha medicinal, sempre com convidados. No domingo, no “Show de Ícone”, trago quem mereça esse título – fiz com a equipe do ensaio, Alexandra Gurgel, Bielo Pereira….

Estou negociando com outra plataforma de streaming, mas ainda não posso revelar. De certo, eu e Anna estamos criando uma série ficcional falando sobre esse mundo das blogueiras e digital influencers, cuja protagonista é uma menina negra, e será minha estreia como roteirista. Anna sempre foi essa pessoa que, quando queria desistir, falava que eu ia conseguir e continua até hoje como mentora.

É muito privilégio poder contar com alguém que tem essa experiência de mercado para poder ler contrato e abrir diálogo sobre como me sinto confortável em fazer uma publicidade. Venho de uma família muito pobre, minha mãe, infelizmente, é semianalfabeta e tem coisas que você precisa de alguém que está nesse mercado. É, realmente, minha mentora.

24 Horas: Dandara Pagu

Foto: André Giorgi

21h

Antes de me mudar, a Anna adotou uma cachorra, a Lua. Um dos grandes acontecimentos da casa, à noite, é quando ela fica correndo do nada. Com 5 meses, está em fase de morder. Nosso jantarzinho tem sopa ou algo mais leve. Delivery, mais para o fim de semana. Meu termômetro é o seguinte: pedir nunca é barato, então tem que ser diferentão. Gosto muito de cozinhar, o que aparecer, me garanto. Às vezes, a gente assiste ao jornal ou “Acumuladores” e realities de reforma.

22H

Conheci meu namorado Gabriel Souza no Clubhouse. Um garoto de T.I., tranquilo, na dele (risos). Ele vem sexta e volta segunda pela manhã. Vemos filmes e namoramos. Nada demais! Não tem muito o que fazer na pandemia, né? Colunista do Bonita de Pele, tenho uma rotina de skincare completa: lavo, tonifico, hidrato, passo sérum. Sou do Candomblé, tenho um altarzinho em casa, acendo vela, rezo e acredito em Deus.

Vou dormir entre 00h e 2h, altos e baixos, como aquele meme que você passa o dia cochilando, mas quando deita as ideias e inputs vêm. Tento anotar tudo, com um bloquinho à mão, de conteúdo autoral a criações para marcas. Quando relaxo, crio melhor.”