
Dalla Marta e Thiago posam em frente à obra de Renato Rios- Foto: Marcio Simnch, com direção criativa de Kleber Matheus, direção de arte de Victor Endo e retouch por Matheus Freitas (Telha Criativa)
Thiago Costa Rego preencheu cada canto de seu apartamento de 300 metros quadrados, em uma rua calma e arborizada de Higienópolis, para ser curtido a dois: ele e o marido, o arquiteto Luciano Dalla Marta. E, claro, com a companhia de Nina (uma griffon de bruxelas, de cinco anos, cujo nome é uma ode à cantora alemã NinaHagen). “A casa foi feita para a gente viver cada espaço. No fim de semana, ficamos na sala, pegamos uma revista ou um livro e abrimos um vinho. Recebemos superpouco. Como ambos trabalhamos com pessoas, no fim de semana gostamos de ficar só nós”, resume o empresário e diretor criativo da T,Office.
O apartamento preserva a arquitetura original dos anos 197o, com ambientes quadrados, paredes chapadas e linhas retas – onde a luz natural chega para preencher os vazios. Nas paredes, saltam as geometrias, texturas e cores. O cômodo favorito de Thiago é o quarto, onde ama assistir televisão. Mas a sala é o mais bonito, em sua opinião. “Gosto de admirar as coisas”, reforça.

Obra de bronze em destaque, com os boiseries originais e, ao fundo, cadeira Humberto da Mata e peças de décor, destroços da fachada de um prédio dos anos 1960, de Paris- Foto: Marcio Simnch, com direção criativa de Kleber Matheus, direção de arte de Victor Endo e retouch por Matheus Freitas (Telha Criativa)
O casal é fã das décadas de 1950 a 1970, com uma leve pitadinha de 1980. Ao sair do elevador, uma parede vermelha ostenta, enquadrada, uma matriz usada na fabricação dos lenços da Guillemin Paris. No hall, além de duas peças em inox – destroços da fachada de um prédio dos anos 1960 – adquiridas em Paris, e uma cadeira Humberto da Mata, os visitantes são recepcionados pela obra monumental “Guta”, de Carla Chaim. “Parece que foi feito sob medida. Se tivesse 30 centímetros a mais, não caberia.” Do projeto original, mantiveram os pisos de madeira e mármore e os boiseries, que ganharam nova pintura no lockdown, em laca branca. Os quatro quartos foram adaptados quando se mudaram. A suíte permaneceu intacta, um deles virou closet e, o outro, uma saleta para servir de escritório, com biblioteca e TV.
Ao entrar na espaçosa sala, saltam aos olhos as poltronas de Jorge Zalszupin e Zanini de Zanine. As paredes reservam um desenho feito pelo próprio Oscar Niemeyer e, sobre a mesa de vidro desenhada por Dalla Marta, uma luminária italiana vintage, comprada em Milão, e cerâmicas de Hideko Honma, Ricardo Brennand, Humberto da Mata e Kimi Nii. Da última ida à França, trouxeram uma obra de bronze dos anos 1950, de autoria desconhecida. Acoplada à sala de jantar, há uma saleta para o café da manhã e chás da tarde, com detalhes de lugares por onde passaram e memórias registradas em fotografias.
Viagens para Itália, Estados Unidos, França, Japão, Camboja, China, Seul e, obviamente, Brasil são o resumo do apartamento repleto de memorabilia. “As peças não precisam ter assinatura. Se for vintage, e a gente gostar, compra mesmo assim”, diz o diretor criativo, cujas andanças pelo mundo incluem visitas a antiquários, galerias de arte e mercados de pulgas.

Obra de Paul Serpette sobre cômoda de pau-ferro- Foto: Marcio Simnch, com direção criativa de Kleber Matheus, direção de arte de Victor Endo e retouch por Matheus Freitas (Telha Criativa)
Nos dez anos em que moram neste espaço, esta é a terceira vez que o apartamento passa por um extreme makeover. “Na pandemia, a gente queria um apartamento mais claro e começou escolhendo tons de branco para a sala”, conta Costa. “Branco é engraçado, quando pegamos a prova tinha sete tons”, complementa o arquiteto. Sem varanda e com janelões, o primeiro item a ser pensado para o espaço foi um tapete, desenhado por Dalla Marta. “Mandamos fazer no Nepal e ficou pronto em um ano.” Só depois de chegada a tapeçaria foram comprando mobiliário e as obras, sempre respeitando o feng shui para manter a harmonia.
Ainda na sala, mesas de centro Aresta, de quartzito e latão, uma Platner redonda acompanhada de um abajur de Los Angeles, assinado por Arterios, e poltronas Vermeil e Dimore Studio. Um sofá Vermeil reforça sua contemporaneidade com a obra do artista André Mendes, da série “A Coisa”, produzida com borracha de pneu descartado – e parece derreter da parede. Há ainda quadros de Renato Rios, Victor Vasarely e Herbert Mayer, os dois últimos de pinceladas marcadas. No canto da sala de jantar, uma luminária de chão italiana recobre a mesa; no outro, a poltrona de bolinhas da B&B (Itália) arremata o espaço com uma cômoda. A mesa no centro, desenhada por Luciano, em imbuia, tem cadeiras Jorge Zalszupin.

Esfera de Gustavo Von Ha, poltrona da italiana B&B, cães de Fo, da China, além do móvel de couro e pergaminho, na sala de jantar- Foto: Marcio Simnch, com direção criativa de Kleber Matheus, direção de arte de Victor Endo e retouch por Matheus Freitas (Telha Criativa)
Nos detalhes, aparecem Mai-Britt Wolthe, Gustavo von Ha, cerâmica de Jonathan Adler e cães de Fo, comprados na China. A relação de Thiago com a moda (ele foi diretor de Marketing e Comunicações da NK Store e hoje atua em campanhas) ajudou a formar seu olhar esteta, pontuado nos detalhes. Mas é no vaivém pelo mundo que o casal se transforma, e isso se reflete na estética da casa – elegante e super cool.