Ediane Maria – Foto: Arquivo Pessoal

Pense em uma mulher que simplesmente representa. Nascida no sertão de Pernambuco e radicada em São Paulo há mais de 20 anos, a deputada estadual recém-eleita pelo PSOL (com 175.617 votos) Ediane Maria aprendeu com a vida a quebrar os ciclos. Filha de Raimunda, doméstica, e de José Merencio, pedreiro e feirante, Ediane começou a trabalhar ainda na adolescência, também como doméstica.

Mãe solo de quatro filhos, coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e cofundadora do Movimento Negro Raiz da Liberdade, ela conta que teve que ressignificar palavras como solidariedade e pertencimento. “O MTST me resgatou e me ajudou a voltar a sonhar. Hoje sei que dou oportunidades a mulheres que foram sistematicamente silenciadas e que faço parte de uma renovação política que tem apelo (e apoio) popular. Muita gente quer ver o protagonismo de mulheres negras, migrantes e que, na maioria das vezes, têm subemprego e são vítimas da segregação racial. Então, trazer a trabalhadora doméstica para dentro do debate é humanizar outras tantas mulheres que foram esquecidas.”

Focada em encontrar soluções para a falta de moradia e em ações de combate à fome, a futura parlamentar enfatiza que tem planos para reabrir a secretaria da mulher, extinta pelo ex-governador João Doria. “As pautas que defendo estão expostas diariamente nas ruas. São como feridas em carne viva. As pessoas em situação de rua [mais de 42 mil, de acordo com o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas] estão completamente abandonadas, muitas das quais foram despejadas durante a pandemia. Não temos mais que pedir por empatia – o sentimento precisa ser naturalizado, a gente tem que enxergar o outro.”

Inspirada em nomes como Guilherme Boulos, Marielle Franco, Luiz Inácio Lula da Silva, Lélia Gonzalez e Angela Davis, ela acredita na organização social, na resistência das mulheres negras, LGBTQIAP+ e nos povos indígenas para transformar o cenário atual e mobilizar a população para questões humanistas. “Em todas as minhas falas pontuo sobre a importância do MTST e sobre as nossas relações com a terra. Quem está nas ocupações entrou nelas como último recurso e não para conseguir algum benefício pessoal. Trata-se de um ato de desespero.”

É como escreveu Carolina de Jesus em seu livro “O Quarto de Despejo”: “As crianças ricas brincam nos jardins com seus brinquedos prediletos. E as crianças pobres acompanham as mães a pedirem esmolas pelas ruas. Que desigualdades trágicas e que brincadeira do destino!”, realidade que segue inalterada há quase 70 anos – e que precisa ser mudada.