Por Jorge Wakabara
Notícias sobre uma recessão global batem à porta e, mesmo para os otimistas, a expectativa é de um desempenho econômico ruim. Mas a moda tem respondido como um escudo cheio de serotonina para esse baixo astral: o verão 2023 internacional vem repleto de cores. E não só: a cor do ano, segundo a Pantone, tem “viva” no nome. É a Viva Magenta.
Se, antes, a resposta para crises desse tipo era o sexy (na lógica “sexo vende mais”, com direito a barra de saia subindo de acordo com o tamanho da recessão), agora outro fator se junta aos decotes, curtos e fendas. Parece que a indústria quer vender… felicidade.
E a gente? Quer comprar, claro. O mundo parece exausto de más notícias e está gostando desse hedonismo coloridão. Na Jacquemus, o top de biquíni faz conjunto com a saia que pareceria uma canga amarrada, não fosse a barra cheia de plumas. A estampa tira ondas praianas em azuis e amarelos, meio noventista new age. Seria carioca se não fosse o sapato mais pesado mostarda, impróprio para as areias do Leblon.
Florais com pegada hippie, aliás, são o alvo de diversas marcas – umas das melhores versões é a de Andrew Gn. Mas outras também capricharam, como Dries Van Noten, Temperley London e, em versão mais ladylike, Carolina Herrera. A Moschino, naquela pegada divertida de sempre, se inspira em boias de piscina para o seu floral retrô, lúdico… e inflado!
E aquela cor estratégica que pula no look? O azul parece sair na frente: a Louis Vuitton mostra vestido com dois laços e desconstrói os clichês românticos – ele é todo em patchwork com quadrados azulões acendendo no meio de neutros. É um jeito de assimilar a tendência sem puxar tanto para o arco-íris. O maxizíper na frente deixa o look ainda mais arrojado.
A mistura do marrom com azul royal também é a tônica da brasileira Misci; na Relow das irmãs Sarti, a cor é o laranja, que explode no verde musgo em conjuntinho esportivo. Mais bicolor nacional? Apartamento 03 de Luis Cláudio pega um roxo com amarelo gema, quase laranja – só no contraste!
O quase monocromático também tem vez: Loewe vai de microvestido pólo azul com sapato forrado de bexigas vazias vermelhas dando uma textura inusitada (ou vestido vermelho com bexigas amarelas no sapato); Stella McCartney faz uma sequência que inclui looks inteiros em rosa, amarelo, azul céu, verde-claro, laranja.
Na parte made in Brasil, a marca Herchcovitch; Alexandre (que recebe seu fundador de volta na direção criativa) retornou às passarelas com seção color blocking. Um dos looks resgata o verde e amarelo em forma superfashion: calça de alfaiataria verde clara, tricô amarelo, camisa xadrez azul de manga curta por cima, sapato azul claro e bolsa rosinha para dar aquela quebrada. É um visual cheio de textura, vivo; não parece algo de passarela não fosse a repetição do símbolo da caveira na blusa e no bolso da camisa. É um encorajamento do mix & match, próximo da lógica do ex-Gucci Alessandro Michele.
A Martins também tem xadrez colorido em um chemise usado com gravata, bem divertido.
Tem quem diga que o preto voltou – e ele voltou mesmo, é onipresente. Mas a corzona para injetar ânimo é muito bem-vinda e corre paralelamente: nas passarelas, nas ruas, nas vitrines. A pergunta é… Você anima?