Alexandre Grimaldi é capa da Harper’s BAZAAR Man. Na foto, ele veste full look Emporio Armani (Foto: Stéphanie Volpato /Styling: Arthur Mayadoux/Harper’s BAZAAR Man Brasil)

Há três tipos de pessoas no mundo: os provocadores, os provocados e os outros poucos que, por raros fenômenos de personalidade, assumem os dois papeis anteriores. Aos 21 anos, Alexandre Grimaldi, faz parte do terceiro grupo. Filho de um romance secreto entre o príncipe Albert II de Mônaco e a comissária de bordo togolesa Nicole Coste, já era assunto de tabloides antes mesmo de saber falar. Ainda assim, para o horror dos fofoqueiros, teve uma infância discreta: nasceu em Paris, em 2003, e viveu entre o sul da França, Nova York e Genebra antes de se mudar, treze anos atrás, para o elegante bairro de Knightsbride, em Londres. Cosmopolitismo, portanto, já virou regra.

Alex, apelido descontraído que já adotou, e eu nos conhecemos em junho de 2023, quando a Pont Neuf, a ponte mais antiga de Paris, estava toda dourada para a estreia de Pharrell Williams na Louis Vuitton. Mesmo rodeado de celebridades (pense no casal Rihanna e A$AP Rocky, um ícone de estilo para o já não-tão-pequeno príncipe), o convidado atraiu olhares. A roupa, toda roxa (sua cor favorita), e as tranças exalaram frescor na primeira fila – e pode existir charme maior do que a novidade? Assim, meio de repente, Alexandre Grimaldi virou o talk of the town (again) e um rosto para nova geração do glitterati fashionista.

Full look: Dior (Foto: Stéphanie Volpato /Styling: Arthur Mayadoux/Harper’s BAZAAR Man Brasil)

Não demorou muito para ninguém o perder de vista. Chá no Harry’s, sushi no Nobu, jantares no Chiltern Firehouse, Hôtel de Paris ou no Le Grill, e até drinks (Mexican Mules, seus preferidos) no Le Bar Américain… suas aparições teriam sido prato cheio para os paparazzi dos anos 2000, mas um pesadelo pessoal. Grimaldi, afinal, faz mais o tipo low profile – tem pouquíssimas publicações nas redes sociais e nenhum receio em preservar sua vida particular. É o tal do “oi, sumido”, mas não atribui o mistério à timidez. “Não acho que seja sobre ser tímido”, me conta por telefone. “Sou abençoado e privilegiado por ter uma vida pública que me ajuda a fazer o que eu quero, que é modernizar Mônaco através de negócios, cultura, música, arte e moda”.

É um pressão auto infligida, ele confessa, mas sem nenhum drama. “Escolho muito bem os momentos que quero compartilhar nas redes sociais. Postar diariamente não é uma necessidade minha e até apago algumas coisas de vez em quando”. A vida de influencer, portanto, não está nos planos – e faz bem em evitar a exposição desnecessária. Mesmo quando foi reconhecido pelo pai, às vésperas da coroação em Monte Carlo, em 2005, continuou a sofrer com manchetes que o taxavam de “ilegítimo”, insulto que preferiu ignorar ao longo da vida. A experiência também acabou o aproximando da meia-irmã mais velha, Jazmin, filha de Albert II e Tamara Rotolo que nasceu em Palm Springs, em 1994. Hoje, é atriz em Los Angeles e conversa muito com Alex sobre a avó-paterna de ambos, Grace Kelly, a estrela de Hollywood que virou princesa de Mônaco em 1956. Nenhum dos dois a conheceu (Grace faleceu em um acidente de carro em 1982, aos 52 anos), mas Grimaldi é familiarizado com sua presença nas telas: gosta muito de Disque M para Matar (1954), dirigido por Alfred Hitchcock, mas prefere mesmo a saga Star Wars (“definitivamente eu seria um Jedi”) ou Django Livre (2012), de Quentin Tarantino. Não é sua única dicotomia.

Full look: Louis Vuitton (Foto: Stéphanie Volpato /Styling: Arthur Mayadoux/Harper’s BAZAAR Man Brasil)

Nos estudos, se concentra apenas com música clássica, mas extravasa a juventude com playlists de rap e R’n’B. Quando me atendeu, fazia poucas horas desde que assistira Travis Scott e Don Toliver ao vivo em Miami, e foi entre os rappers (Kendrick Lamar domina o rol de queridinhos) e atletas (Shai Gilgeous-Alexander e Allen Iverson, da NBA) que encontrou a semente para seu estilo pessoal, marcado pelo street style e a cultura urbana. Desenvolveu um gosto particular pela moda de Virgil Abloh e outros designers negros, como a anglo-jamaicana Martine Rose, responsável pela joia da coroa em seu guarda-roupa: uma polo oversize cinza-claro. O que ainda não tem, mas quer, é um cardigã de zíper-duplo da Maison Margiela. Melhor ainda, quer dois: “um preto e outro azul marinho”. Enquanto isso, “acho que ainda estou descobrindo meu estilo e personalidade. Gosto de como sou hoje, mas sei que vou evoluir… e adoro experimentar com o novo”.

Curioso incurável – típico da flor da idade –, busca muitas das referências nas viagens que faz; e é, confessadamente, apaixonado pela moda de rua no Japão: “o estilo de Tóquio é o melhor do mundo”. Ainda impactado por uma viagem recente que fez ao país, já está pensando em voltar, mas explica que não consegue “ficar em um único lugar por muito tempo”. É um tipo nômade da nova geração, próprio do jet-set – e o agito também significa uma queda por festas. “Sou festeiro, sim”, ri, sem culpa, mostrando interesse em passar um carnaval no Brasil. “Já fui ao Rio de Janeiro com a minha mãe quando eu tinha sete anos. Lembro do Cristo Redentor. Hoje, mais velho, quero voltar”. Prometo um tour guiado e, em troca, Alex aceita disputar uma partida de tênis, um dos esportes que, além de futebol e basquete, pratica regularmente. “Ah, e o golfe… mas preciso melhorar o meu swing”. Risos.

Full look: Balenciaga ((Foto: Stéphanie Volpato /Styling: Arthur Mayadoux/Harper’s BAZAAR Man Brasil)

Entre as idas e vindas incessantes da rotina, Grimaldi sabe aproveitar os tempos de paz. Feriados em família (junto com os dois meios-irmãos maternos) são quase sempre em Cap-Eden-Roc ou St. Barths e, mesmo em Mônaco, aproveita a companhia da tia e madrinha, a princesa Stéphanie. Também não são raros os momentos com o pai, a madrasta Charlene e os príncipes gêmeos do casal, Jacques e Gabriella, nascidos em 2014, mas, sozinho, Alex é um existencialista. Seu livro favorito é O Mito de Sísifo (1942), de Albert Camus, um ensaio sobre os absurdos da vida moderna – e quantos deles existem! Será, por exemplo, que dá para imaginar um príncipe anti-etiqueta? Difícil. Nesse sentido, Grimaldi se revela “comportado” e segue tudo comme il faut, mas não esconde um gostinho pela rebeldia sazonal: se tivesse uma obra de arte no mundo, seria um Basquiat.

Full look: Emporio Armani ((Foto: Stéphanie Volpato /Styling: Arthur Mayadoux/Harper’s BAZAAR Man Brasil)

O editorial com Alexandre Grimaldi, príncipe de Mônaco, foi originalmente publicado na edição de dezembro/2024 da Harper’s BAZAAR Man Brasil, sob o nome “Cara e Coroa”.

Fotografia: Stéphanie Volpato
Styling: Arthur Mayadoux
Editora de moda-at-large: Filipa Bleck
Coordenação e texto: Guilherme de Beauharnais
Beleza: Fabien Giambona
Direção de movimentos: Rim Zitouni
Assistente de fotografia: Fred Landry
Assistente de styling: Paul-Marie Plazanet
Vídeo: Martin Bleck
Agradecimentos: Shaw Mann (@shawnonthemove), @52westagency e @lebristolparis