Foto: G.Prado – Arquivo Harper’s Bazaar

Por Lígia Krás

Eu confesso que não sou muito antenada em vida de celebridades e influenciadoras. Mas uma notícia me fisgou nas últimas semanas: o relato de Anitta, e depois de Patrícia Poeta, sobre a endometriose. Não demorou para surgirem aquelas matérias com chamadas caça-cliques de “outras famosas que passaram pelo mesmo”, a exemplo de muita gente jovem, como Isabella Santoni, Emma Roberts, Gabriela Pugliesi, Giovanna Ewbank, entre vários rostos conhecidos.

Sabe quando você pensa “até que enfim vamos explorar esse assunto, as pessoas precisam falar mais sobre isso”?

Tenho endometriose profunda há alguns anos, e nos últimos tempos, principalmente apó ter Covid em janeiro de 2022, minha saúde ganhou outros agravantes: síndrome metabólica, vários processos inflamatórios, e para completar, uma doença autoimune na tireoide (a complexa tireoidite de Hashimoto) que me deixou totalmente travada, dos joelhos até a cabeça. Em paralelo a esse quadro, tinha planejado uma viagem para a Noruega, meu lugar preferido no mundo, para onde vou há décadas a fim de me conectar comigo mesma, de voltar mais revigorada do que conseguiria explicar em um texto.

A questão é: como faria uma viagem tão longa (só no avião são muitas horas) com esse quadro de saúde, se na última vez que fiz ressonância, o exame estava cheio de pontos brancos preocupantes? Em outras palavras, quando a endometriose chocou com a tireoidite e todos os outros fatores, meu corpo entrou em um colapso inflamatório que causava desde sinusite forte até o inchaço e minha mobilidade ao caminhar. A impressão era de que meu organismo virou uma bomba-relógio de tanta inflamação, e que se não fosse a Covid, aconteceria qualquer outra coisa devido a tudo que habitava esse corpo.

Por sorte, além de médicos endocrinologista, ginecologista e fisioterapeuta, duas profissionais incríveis entraram no meu caminho e salvaram minha viagem: a nutricionista funcional Carla Gonzales, que atende online e em consultório em Jaguarão, no interior do Rio Grande do Sul; e a esteticista Priscila Alves, que atende na clínica Bella Rubi Estética, em Copacabana no Rio de Janeiro.

Do endométrio para outras partes

Uma coisa que poucas pessoas sabem é que, quem tem problemas na tireoide (que afeta o metabolismo), acaba com extrema dificuldade em emagrecer e a alimentação não pode ser a mesma de outras pessoas – aveia e couve-de-Bruxelas, nem pensar! Junte isso ao quadro da endometriose, que é uma inflamação que pode acabar afetando outras partes do corpo ao longo da vida, e que atinge com frequência as artérias.

A Carla, que trata muitas mulheres que têm endometriose e sofrem problemas de mobilização pela junção da endometriose com artrite ou artrose, costuma receitar alimentos anti-inflamatórios. “Primeiro a gente retira os industrializados, o leite, glúten (que é extremamente inflamatório), diminuo ao máximo o sal e açúcar, para desintoxicar. Após uma limpeza de 15 dias mais ou menos, a gente muda a dieta da pessoa, onde entra também alguns truques da fitoterapia, como o shot de água, limão e cúrcuma, que é uma planta maravilhosa para desinflamar”, explica Carla para Bazaar. Outra dica é apostar em sucos puros de frutas como uva ou laranja.

Mãos de anjo

Algo que ajudou muito em todo o meu processo de tireoidite de Hashimoto + endometriose + combo de inflamações e covid, foi a parte estética conduzida pela Priscila Alves. É importante destacar que, quando falamos em estética, não é apenas sobre fazer sobrancelha, depilação em dia ou limpeza de pele. Tem a ver com bem-estar, com saúde mental e, principalmente, com os cuidados que cada pessoa tem em particular. Eu tinha muito receio pelo uso de aparelhos perto da região do meu útero, que fica muito dolorido na metade do mês, por causa da endometriose.

“A Lígia chegava aqui muito inchada, sempre com dor e é uma profissional que trabalha com tecnologia, fica longas horas no computador, se move pouco, a inflamação dela começou a agravar muito as ondas de celulite na pele. Ela precisava de algo funcional, de efeito imediato mas também que a ajudasse relaxar um pouco. Eu acredito muito no poder das mãos. Além de gerar muita sensação de relaxamento e autocuidado, o toque é fundamental para levar equilíbrio para o corpo, da cabeça aos pés. A massagem, no caso dela a drenagem principalmente, se torna terapêutica e benéfica para o organismo, modela, desincha, reduz medidas e alívio dores e retenções”, explica Priscila.

A esteticista acrescenta que o pós-covid também alterou a busca em sua clínica: “Após essa pandemia, com tantos sintomas diversos de cada cliente, destacamos a busca pelo o detox corporal com ativos drenantes, com ação anti-inflamatória e eliminação de toxinas, e a massagem corporal para levar alívio imediato e redução de medidas”.

Pós-covid

Carla costuma comparar as nossas células com soldados. “Imagina o personagem Rambo, que tinha toda a força e potencial para derrubar vários homens sozinhos, mas sempre tem um alvo certo. Agora imagine como soldado o desenho animado Pateta, que era mais bobão, e se precisar combater um exército, vai chamar vários outros Patetas, que não vão dar conta da missão porque não sabem nem pra onde ir. É isso que acontece durante a Covid: é muita inflamação sem alvo, porque eles não têm a força de combater esse vírus, visto que nossas células brancas não são bem alimentadas, a imunidade é ruim”.

Isso explica porque muitas pessoas, mesmo após se curarem da Covid, ficam com supostas sequelas, o que, segundo a nutricionista, tem a ver com o fato do corpo estar todo inflamado numa situação crônica: “Pode ter passado o risco de morte, mas um corpo que tem tendências à inflamação por má alimentação ou hábitos de vida, acaba ficando com outros sintomas após passar a fase pesada da doença, como uma tosse que não vai embora, problemas de memória ou diversos outros incômodos”.

Nesses casos, o melhor a se fazer é tentar aumentar a imunidade do paciente, como conclui a nutricionista funcional: “É importante incluir na dieta óleo de alho, cranberry que tem muita vitamina C, além de revisar como estão as vitaminas C e D da pessoa e de zinco, e analisar como está a condição intestinal (que é algo diretamente ligado à imunidade). Resumindo: quem tem o intestino funcionando bem, acaba tendo uma boa imunidade. Quem tem problemas intestinais, quase sempre está propenso às doenças inflamatórias e outros males da baixa imunidade”.

Graças a toda uma equipe multidisciplinar que esteve comigo e principalmente a essas duas profissionais que me trouxeram com muito carinho e paciência, soluções rápidas mas não menos eficientes e saudáveis, consegui fazer uma viagem sem sofrer tanto com dor e olha que envolvia 9 voos em 13 dias e muitas caminhadas para viver experiências incríveis que vou contar aqui na Bazaar em breve.