Rina Sawayama – Foto: Thurstan Redding/Divulgação

Pode soar brincadeira, mas a autora Elizabeth Gilbert (de “Comer, Rezar e Amar”) tem uma parcela de culpa no segundo álbum de Rina Sawayama, “Hold The Girl”, previsto para 16 de setembro. No ápice da pandemia, a cantora japonesa estava em pânico, presa em casa com bloqueio criativo e sem conseguir compor. Foi quando ganhou de um amigo o livro “Grande Magia – Vida Criativa Sem Medo”. “Li, gostei e me transformou tão rápido que me permitiu ser criativa novamente”, recomenda ela à Bazaar, da sede de sua gravadora em Londres, onde mora. “Coleciono palavras e frases e as anoto em meu celular. Uso como ponto de partida porque não toco nenhum instrumento”. É assim que começam a surgir letras e melodias e, para o sucessor do autointitulado debut, esse boost fez com que ela entrasse em estúdio cerca de um mês e meio depois.

A faixa-abre “Minor Feelings”, primeira a ser gravada, dá o tom. Fala daquele sentimento de não pertencer a um lugar ou não se sentir parte de determinado grupo. No caso dela, uma imigrante japonesa (nascida em Niigata), morando na Inglaterra desde os 5 anos. O título veio do livro escrito por Cat Park Hong, mas que ela só leu depois de compor a track. A canção também faz referência ao ódio racial que estava assolando o mundo na primeira onda de Covid, especialmente à história de uma médica asiática que foi ofendida de forma odiosa por um paciente. “Isso ficou na minha mente. Por isso, me refiro ao escudo de plástico no primeiro verso”, conta.

O álbum com 13 faixas faz uma reflexão sobre tirar um tempo para si, na virada de chave para a vida adulta e maturidade. “Completei 30 anos em 2020, foi estranho, apesar de estar animada. Você se vê jovem, mas parece que está mais perto da idade dos seus pais”, reflete. O trabalho, ela explica, é uma chance de olhar para si, se reconhecer e contextualizar certas coisas. “É meio que falar sobre experiências humanas e envelhecer. No processo, me senti muito pesada, agora que terminei, me sinto muito mais feliz”.

Dizem que o segundo álbum é mais difícil para os artistas porque serve de base para consolidar as carreiras em uma indústria tão volátil quanto a da música. Mas ela não sentiu a pressão. O que a consumiu foram as sessões de gravação à distância, sem o tête-à-tête do estúdio. “Foi horrível, chato e nada divertido”, relembra. Por isso, focou em fazer algo totalmente diferente, baseado em coisas que gosta. Afinal, não queria repetir fórmulas em um novo trabalho.

Por falar em passado, não é só na moda que os Y2K (anos 2000) estão de volta. No novo disco, ela acena tanto para o indie rock de bandas como o britânico Bloc Party do início do milênio quanto para o country, sem perder a essência em contar histórias e passar uma mensagem. “Amo a era country de todo mundo, como a da Madonna. Eu amo ‘Joanne’ (de Lady Gaga)”. Em sua apresentação no Jimmy Fallon, por exemplo, deu para sentir a referência de “Don’t Tell Me”, do álbum “Music”, da rainha do pop. “Qualquer garota que tenha seu momento country é uma referência para mim. Shania Twain está, obviamente, no topo, mas é um momento de plena confiança quando chegam nessas eras”.

Chancelada pelas paradas musicais e por festivais como o americano Coachella (quando fez uma ponta, também, no show de Pabllo Vittar) e o europeu Primavera Sound, vem colecionando cada vez mais fãs (está beirando o 1M de seguidores no Instagram) e status de mainstream.

Mas ainda não tem a percepção plena de como sua música está chegando ao outro lado do fone de ouvido. Muito desse feedback é online. Ao vivo, teve a sorte de esbarrar em pessoas que emanam amor e gratidão, e não gosta de pensar no lado sombrio da fama, como ela própria canta sobre os casos de espetacularização da carreira como Britney Spears, Lady Di e Whitney Houston, no single “This Hell”.

Na prateleira da música pop, artistas contemporâneas como Dua Lipa são ícones fashion. Rihanna é, em sua opinião, a maior! “Amo o que ela fez pela indústria da moda e maquiagem. Simplesmente, mudou o jogo com seu estilo. Tudo o que ela faz é legal, colorido e conceitual”, derrete-se.

E ela mesma vem se embrenhando pelo universo da moda, longe das passarelas, como quando foi convidada para o desfile da Schiaparelli, na semana de alta-costura, em Paris, no início de julho. Foi quando conheceu Anitta, com quem trocou altos papos. Sem participações especiais, apesar de estar aberta a colaborar com artistas (com Pabllo Vittar, por exemplo, tem duas – como a recente “Follow Me”, lançada às vésperas do Lollapalooza Brasil deste ano), “Hold the Girl” está repleto de músicas para as pistas, seja para cantar com o choro do banjo, sofrer com as baladas românticas e se deixar levar pelo som mais experimental e alternativo, com as batidas por minuto (BPM) lá em cima.

Mas ela não deixa de entregar vocais envolventes e momentos pop para lá de épicos. Em turnê pela Ásia e Europa neste segundo semestre, quer vir logo ao Brasil pela primeira vez. Nós, por aqui, já separamos o look com chapéu de caubói, roupas com franjas e esporas. Basta confirmar!