Grávida: Claudia Raia em seu primeiro editorial de moda

Claudia Raia surge “plenérrima” (pleníssima em seu vocabulário) na capa da Bazaar e no ensaio sexy back. Repleta de planos e sonhos, felicidade e gratidão resumem esse momento da vida com toda a enxurrada de amor que recebeu ao anunciar, aos 55 anos, a gravidez do seu terceiro filho – o primeiro do relacionamento de mais de uma década com o também ator e bailarino Jarbas Homem de Mello.

Já era mãe de Enzo, 25 anos, e Sophia, 19, frutos do casamento com Edson Celulari. “O que para algumas pessoas é um fardo, para mim é uma alegria”. No fim do ano passado, realizou uma fertilização in vitro, com óvulos coletados aos 48 anos, mas a tentativa não vingou. “Justamente por causa da fertilização, fiz todo esse processo de estimulação hormonal”, conta. Passada a tentativa, e após ultrassom, foi alertada por sua médica para tomar cuidado para não engravidar. Não levou a sério, riu e seguiu a vida. Foi quando, nesse período, engravidou. Seus seios cresceram e foi como se tivesse saído temporariamente da menopausa. Fez uma bateria de exames e deu positivo. “Ao fazer o teste da farmácia, quando li ‘grávida’, falei: ‘tá errado’. Duvidei, de tanto ouvir que não era possível. Eu, a defensora do ageless”, refuta.

Feminista desde que se entende por gente, Claudia quer ser agente de transformação. Representatividade, vitalidade e potência são palavras que regem esse segundo ato da vida. Quer servir de inspiração para outras mulheres que, em suas palavras, são colocadas em um lugar mixo quando chegam a determinada idade. Quando, na verdade, ainda têm meia vida pela frente. “(Para) se sentirem mais potentes, sacudi-las e dizer: olha, a fertilidade ‘tá’ aí e não é só para gerar um filho”.

Planos a longo prazo e coragem fazem parte do arsenal produtivo. Grávida de quatro meses, quando conversamos no fim de setembro, ela ainda não sabia o sexo do bebê. “Só consigo dizer que o nome continuará a saga italiana”, despista a mezzo calabresi e mezzo siciliani, responsável por pautar uma geração de Enzos – diminutivo para Lorenzo. “É uma responsabilidade que me colocaram nas costas, não é minha. Não fiz nada de propósito”, ri. Poderia ser mãe de dez, mas acabou adotando os outros por meio da profissão. As crias são Fernanda Souza, Mariana Ximenes, Paolla Oliveira, Marcella Rica, Isabelle Drummond e Cauã Reymond. “Adoro, é um talento ser mãe. Sou cuidadora, uma pessoa que está sempre olhando e ajudando o outro”, sustenta.

Capricorniana com ascendente em gêmeos, a vida profissional move a atriz, bailarina e produtora teatral com uma carreira sólida, construída “tijolinho por tijolinho” desde quando emergiu na televisão em “Viva o Gordo”, em meados de 1985. Desde então, as outras abas da vida foram acompanhando. Quer ampliar o portfólio de apresentadora, estreado neste ano no “Decora: Vida de Novela” (GNT), seguindo os passos da “maravilhosa” Hebe Camargo – sem muita pretensão, vale frisar. “Quero muito ter um programa de auditório. Poder falar com o público, uma mulher que já é madura, verve de comédia”, narra.

Sex symbol de sua geração, não sofre rejeição por parte das mulheres, tem uma relação amistosa e sem competição. O lado humorista a coloca nesse lugar próximo e de inspiração. “Não as amedronto, sabem que, na verdade, quero falar com elas”, esclarece sobre o crush dos maridos. Dar um passo para trás não existe em sua rotina. Agradece por não ter uma gravidez pautada por enjoos. No máximo, um “soninho” quando está mais cansada. Quer sempre seguir em frente, por isso não vai deixar de atuar. Se precisar, vai amamentar na coxia. Realidade experienciada outras vezes. Tem pelo caminho a adaptação para o cinema do espetáculo “Conserto para Dois” (do diretor Pedro Vasconcelos), onde atuou ao lado do marido, e o musical “Glória Glória”, com roteiro de Marcelo Saback. Também estava escalada para a série “Justiça” (Globo), adiada algumas vezes e agora, com a gravidez, segue incerta sua participação. “Tudo em suspenso porque ninguém esperava por essa, né?”, diverte-se. Em 2024, protagonizará o musical biográfico sobre a pintora modernista “Tarsila – A Brasileira”, escrito por Anna Toledo e dirigido por José Possi Neto, montagem da qual também é produtora.

Durante o lockdown, deu um mergulho profundo ao revisitar o primeiro ato de sua vida, no livro “Sempre Raia um Novo Dia” (escrito por ela e Rosana Hermann). “Tudo o que andou para frente, para trás e o que não andou. A pandemia serviu para mostrar quem é quem no jogo do bicho”, observa. Aprendeu a potência do à distância e vive o aqui e agora quando é presencial, sempre agradecendo os privilégios – ela sabe quais tem. “Aprendo, diariamente, com o Jarbas a arte de não fazer nada. Isso é uma coisa muito séria”.

Desse ócio, vêm insights criativos. Planos individuais e em dupla são o segredo dessa parceria de 12 anos do amor ao trabalho. Aliás, toda a habilidade enquanto bailarina deixa a desejar quando exige coordenação motora. Tudo de delicadinho, passa longe. Ginasta até os 11 anos, não sabe andar de bicicleta ou jogar bola… Recorda de uma partida de futebol Fla-Flu, com Maracanã lotado, quando errou o chute. Memória ruim, a qual dribla com bom humor, como sempre. Rir de si é o modus operandi de Claudia. Para expandir seu poder de compreensão, desliga tudo e vai meditar por 15 minutinhos quando está estressada. Terapia duas vezes por semana também ajudam a desopilar, pois não há HD que aguente tantas abas abertas.

Sophia Loren e Jane Fonda são inspirações de resistência. Preocupação da vida toda pela qual vem colhendo resultados. “Com 18 anos, tirava a maquiagem chegando às seis da manhã porque falava: ‘um dia, vou estar mais velha e isso vai me prejudicar’.” Dito e feito. “Velha” é uma palavra inexistente em seu vocabulário. Aprendeu a admirar o passar dos anos com sabedoria. “O caminho que fiz foi pensando na longevidade e essa gravidez apenas prova, para mim, que um caminho saudável você colhe bônus e não ônus”.

Isso vale para a gravidez e para a vida, porque tem gente que não quer engravidar… Para Claudia, a vida é planejar. Mesmo que depois o planejável tenha de se rearranjar, mudar de ideia ou adaptar. Síntese dos anos 1980, teve papel avant-garde em uma indústria majoritariamente masculina. Engravidar aos 55 é um ato político, que não precisa de validação. Cuidados com o corpo e a mente estão sempre no radar. Atividade física não é opcional. Vem no manual de instruções para levar a vida. Musculação, aeróbico e dança são suas atividades recorrentes.

Planos tem de montão. Como produtora, faz acontecer. Se tem uma coisa que ela tira de letra é se dedicar. Quando acredita, então, – com o perdão do trocadilho – não foge da raia. Abundância de felicidade, amor, união, trabalhos e novos desafios é tudo o que espera tanto como profissional, quanto mulher. Como sempre, quebrando tabus!