
Por Jorge Wakabara
O Globo de Ouro teve tapete vermelho? Não como a gente está acostumado: foi aquele clima de premiação que mistura online e presencial. Mas as roupas apareceram e três chamaram a atenção de Bazaar: a de Kristen Wiig (Prada) e a das apresentadoras Tina Fey (Versace) e Amy Poehler (Moschino). Em comum, as peças são todas curtas. Wiig tem 47 anos, Fey, 50, e Poehler, 49, derrubando a ideia de que esse visual deveria ficar restrito apenas às mulheres mais novas. Que bom!

No verão 2021, em sua eterna ode à adolescência, Hedi Slimane espalhou minissaias pela coleção da Celine. Mas, na temporada de inverno 2021 que acabou de acontecer, o curtinho também ganhou força com clima mais adulto.

O diretor criativo Pierpaolo Piccioli usou obras do artista Lucio Fontana como uma das referências da coleção da Valentino: “Procurei por um espaço aberto a novas possibilidades, como os rasgos que Fontana infligia nas telas para achar novas dimensões atrás delas.” A nova dimensão aqui… é a perna de fora na imensa maioria dos looks P&B desfilados no Piccolo Teatro, em Milão, e exibidos online para o mundo.

Sem fazer disso um statement, outras marcas, como Schiaparelli, Lanvin e Balmain também incluíram mínis nos seus lançamentos do semestre que vem.

A Versace caprichou no comprimento menor de saias e vestidos. Em certos momentos, um cinto largo bem anos 1960 envolveu a cintura, complementando o look. O contraponto era o salto, uma plataforma grandona e atrevida que dividiu opiniões.

A Chanel surpreendentemente deixou a locação do Grand Palais para o seu inverno 2021 e foi para um lugar bem menor e com aura cool: o club Chez Castel, onde ícones dos anos 1960, como Françoise Hardy, exibiam seus curtíssimos. As criações de Virginie Viard também conversam com esse clima: suas club girls capricham no preto do olho e nos mínis. Espantam o frio da noite de outono jogando uma pelúcia por cima, uma bota de cano longo e… haja drinks para esquentar!

Não tem jeito. Fashionistas fazem uma conexão instantânea da minissaia ao movimento jovem dos anos 1960. Existe até uma disputa para saber quem a criou primeiro: André Courrèges ou Mary Quant? Tem quem diga “nenhum dos dois” – a inventora da peça foi a rua, com as próprias meninas subindo a barra das suas saias.

Porém, rebobine mais a fita: um filme B de ficção científica já tinha encurtado a saia… em 1956! Era Planeta Proibido, com a atriz Anne Francis no papel de Altaira, a única sobrevivente de um outro planeta ao lado de seu pai cientista. O capitão da nave que vai buscá-los para que voltem para a Terra, comandante Adams (Leslie Nielsen), se incomoda com a roupa curta de Altaira – chega até a brigar! Machismo vintage. A personagem, ingênua, não entende o drama. Diz que ela mesma inventa seus looks, produzidos pelo robô Robby.
O verdadeiro nome por trás dessas criações que Francis vestiu era a figurinista Helen Rose. Ela explicou em entrevista que imaginava o corpo humano ainda mais lindo no futuro, com exercícios e dietas avançadas. Por isso, ela deixou as pernas da atriz de fora, no que hoje é conhecido como o minivestido pioneiro, com a barra bem no começo da coxa! O apelo sensual da mocinha nas telonas estava garantido.

O visual de Courrèges, anos depois, embarcava nos encantos da era espacial. Com um apreço pelo branco, o míni era combinado com uma botinha: a space boot. Já a atual volta do curto chega em mais uma onda de empoderamento feminino. Coincidência? Não parece. E chega de ligá-lo apenas à juventude e ao futuro, né? O tempo de todas as mulheres é o agora. “Meu corpo, minhas pernas, minhas regras!”